Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 51

Sendo o Brasil um país de contradições, nada mais contraditório do que falarmos em “Brasil, um país de todos” e vermos ainda crianças e adolescentes fora dos espaços escolares. Segundo Bossa, (2002, p. 19):

No Brasil, a escola torna-se cada vez mais o palco de fracassos e de formação precária, impedindo os jovens de se apossarem da herança cultural, dos conhecimentos acumulados pela humanidade e, consequentemente, de compreenderem melhor o mundo que os rodeia. A escola, que deveria formar jovens capazes de analisar criticamente a realidade, a fim de perceber como agir no sentido de transformá-la e, ao mesmo tempo, preservar as conquistas sociais, contribui para perpetuar injustiças sociais que sempre fizeram parte da história do povo brasileiro.

Neste contexto, é a escola que sem dúvida, deverá ser a flexibilizadora de uma discussão mais aberta e reflexiva junto a seus alunos, como campo de debates e de uma formação complementar que os faça refletir sobre o eu e o outro, como no dizer de Bakhtin: “é no encontro entre o eu e o tu que nos tornamos o que somos” (2000, p. 31), pois a construção de nossas identidades só se faz a partir da interação, pois ela é dialética e a escola tem um papel ativo, quer na construção de contextos a partir de interações com os outros, quer na apropriação de valores importantes para a construção da cidadania.

Assumir um compromisso efetivo e não indiferente é o que Bakhtin (2000) chama de ser responsável por nossos atos, assiná-lo, ser responsável por ele em face dos outros num contexto real e concreto, ou ainda, o pensamento tornado ato é um pensamento valorado, um pensamento com entonação e que adquire, ainda segundo a expressão de Bakhtin, “a luz do valor” (1992).

MEMÓRIAS DE ESCOLA: o que dizem os adolescentes em conflito com a lei sobre suas vivências escolares

Nesta Seção trato especificamente da análise da entrevista realizada junto ao adolescente que cumpria Medida Socioeducativa de Internação na Unidade de Val-de-Cães-FASEPA5, destacando apenas a fala de um dos 18 adolescentes entrevistados, mas que bem representará o coletivo ouvido.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 50