Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 34

Para a apreensão do sentido da construção acima, os profissionais do CECCO criaram uma nova realidade, linhas diferentes para suas ações junto ao sujeito diferente, formaram-se ou qualificaram-se para atuar como oficineiros ou arteterapeutas. Alguns fizeram formação em práticas orientais da medicina tradicional chinesa, outras graduações, passaram por diversos campos de atenção à saúde, atuaram de forma a envolver outras secretarias de governo (Saúde, Educação, Verde, Habitação, Assistência Social, Trabalho e Emprego).

MOSAICO DE ASSISTÊNCIA NA GESTÃO ERUNDINA

Os entrevistados falaram a respeito da importância do modelo implantado nessa gestão e a atuação em rede. Modelo que, a nosso ver, visava com credibilidade à Reforma Psiquiátrica. Embora tenha sido criticado por parte hegemônica dos dirigentes do Movimento da Luta Antimanicomial (MLAM), esse modelo acaba por ter seu reconhecimento, ainda que de maneira não explícita e dissimulada pelo gestor nacional, ao ter-se dado louvor ao modelo paulistano de rede, quando se a preconiza com a Portaria nº 3.088/2011 que institui a RAPS, a atenção em rede, e não mais centrada no Centro de Atenção Psicossocial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

O modelo de Saúde Mental da gestão Luiza Erundina foi pioneiro em realizar a assistência em rede e foi preterido na escolha do modelo da Política Nacional de Saúde Mental por fatores político-ideológicos e limites ao financiamento do modelo (VIEIRA & MARCOLAN, 2016). Portanto, de modo deliberado, o CECCO não teve repercussão na Política Nacional de Saúde Mental. Conforme um testemunho colhido:

Retomei um pouco a questão da Saúde Mental, pensada em rede, num contexto, pois existia a ideia de um fluxo, referência, contra referência, cada equipamento tinha uma função no cuidado do indivíduo em sofrimento psíquico. Depois dos fechamentos dos manicômios, havia a preocupação de ter uma rede integrativa para olhar o sujeito, tem que ter uma ideia de como o indivíduo em crise continuaria dentro da sociedade. (...) Tínhamos leitos psiquiátricos em hospital geral que era para dar conta de uma contenção, mas ainda dentro de uma integração, pois o hospital geral está na sociedade, o manicômio não. A partir desse momento, quando há estabilização do quadro, a pessoa voltaria para a família, que essa família teria suporte de um hospital dia. Há tempo para se estruturar. Lá ela tinha acesso à equipe multi, psicólogo, psiquiatra, enfermagem, T.O. Ele tinha um período em que ele estava num espaço de saúde, não de doença e era tratado de forma singular, diferente do manicômio. Estabeleceram-se vários hospitais dias em São Paulo (...) conheci o CECCO Ibirapuera, que era um primor.

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PATHOS / V. 10, n.03, 2019 33