Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 10º Volume | Page 35

O PLANO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE (PAS) E A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE: O ABALO SÍSMICO

O PAS, enquanto modelo de atenção à Saúde, mostrou-se insustentável. Centrado na assistência médica individual, ele não dava conta das questões de Saúde Pública, que exigem ações articuladas voltadas à promoção e prevenção, além da formação de rede de suporte ao sujeito. No período de vigência do PAS, abandonaram-se as ações preventivas e a consequência foi, entre outras decorrências desastrosas para a saúde pública de São Paulo/SP, a destacar o surto de sarampo no município. Desprezou-se a atenção ao HIV/AIDS, à Saúde Mental e à tuberculose. Além disso, é necessário ressaltar a ausência de controle público sobre as atividades das cooperativas (VIRGINIA, 2012).

Nas entrevistas, percebemos o quanto as gestões de Maluf e Pitta foram reacionárias, inverteram a lógica da Saúde Pública e do SUS, privatizaram a Saúde paulistana e rechaçaram as conquistas da gestão Luiza Erundina, sem continuar a rede construída para cuidar de quem sofre psiquicamente. O CECCO ficou à margem, estancaram-se os investimentos e muitas equipes foram destruídas.

É de se admirar que esses serviços ainda tenham tido força para continuar a complexa tarefa de fazer Saúde Pública, pois os CECCOs sofreram pelos interesses econômicos no jogo político, mas, ao mesmo tempo, cumprindo com seu papel ético de projeto de vanguarda na real mudança de paradigma em Saúde Mental.

O CECCO sofreu com a falta de investimento e perda dos recursos humanos. Não houve aumento do projeto por muito tempo, os usuários sofreram com o abandono do projeto e com equipes que não sabiam o que faziam (ELIAS & NASCIMENTO, 2009).

Era um primor de projeto, havia um fluxo que visava à reinserção e reabilitação, porém foi se desmantelando, mal conseguiu se estruturar e, em 1996, temos o Maluf e o Pitta que foi a entrega total para o PAS, que nunca pensou em Saúde Mental, pensavam em saúde física e do bolso deles (...). Com o PAS houve uma destruição, é de chorar, colegas entraram em depressão, alguns cometeram suicídio (...), mas com as terceirizações isso foi mudando, hoje o profissional pode ser bom, mas o sistema é rígido e não deixa. Fiz todos os projetos que quis, havia abertura. Podíamos criar em cima. Hoje, o sistema não te permite porque tem toda essa desmotivação. Quando aposenta profissionais bons, não há na rede quem continue sonhando. Acho que nos perdemos, não sei, não há um suporte. Com as terceirizações, fica-se na mão de ninguém. Fica parecendo que é má vontade das pessoas, só que não há eixo político que sustente os projetos.

PATHOS / V. 10, n.03, 2019 34

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