cantina. Eu olhei e tive um pouco a sensação de‘ ali é a minha turma’. E enquanto os calouros subiam, eu me juntei à turma do Leo”, gargalha Uyara.“ E eu e o Leo cantamos Lua de Cristal para os calouros, como se eu fosse uma veterana, assim como ele.” O ano era 2005. Uyara tinha vindo de Paranavaí para cursar Artes Cênicas em Curitiba.“ Eu achava que podia ser uma grande atriz”, diverte-se Uyara, no melhor estilo“ faz de mim estrela que eu já sei brilhar”. Mas nunca tinha pensando a sério em ser cantora. Também no melhor estilo Lua de Cristal, Uyara cantava – e canta até hoje – por amor. A Mais Bonita, como costumam chamar a banda, surgiu quando Uyara quis dar a sua interpretação para alguns compositores que conhecia.“ Mas só porque eu gostava de cantar”, de
ESTAVA À TOA NA VIDA...
Era um dia que seguia como qualquer um outro aquele 18 de maio. E seguiria assim, naturalmente até o fim, não fossem eles. Nenhuma notícia emblemática estampando as manchetes até então – à noite, seriam eles –, nenhum obituário noticiável no país, ninguém fazendo nada da hora do Brasil. Nada de novo no front. Tudo seguia como sempre esteve e sempre estaria. Até que Vinícius, tecladista e desde sempre espécie de ombudsman da banda, resolveu, perto do meio-dia, no trabalho, antes de sair pro almoço, postar o terceiro e último clipe de uma série de três gravada naquele fim de semana, na casa da vó da Ana, em Rio Negro.
“ Lançamos o primeiro, o segundo, e Oração eu não estava gostando muito”. Risos.“ Tanto que segurei por três meses.” Muitos risos. Vinícius postou o vídeo pouco antes de sair pro almoço e enviou para todo mundo que tinha um envolvimento com a produção do clipe:“ O pessoal que tava na casa, os amigos que foram [ num show no SESC da esquina onde o clipe foi exibido em premiére ] e tinham pedido o vídeo, pessoas que já tinham produzido a banda antigamente”. Quando saiu para almoçar, dez minutos depois, o vídeo já tinha ganhado muitos likes e começava a ser compartilhado.
“ Eu voltei do almoço aquele dia e falei: Porra... tudo mudou, né?”( Vinícius Nisi, tecladista d’ A Banda Mais Bonita da Cidade) fende-se ela.“ Eu sempre soube que eu não sou uma grande cantora, 100 % afinada. Só que me fazia muito feliz.”
O objetivo, no entanto, era e continuava sempre ser atriz. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega um plano sequência e
carrega a carreira pra lá. A tal banda, criada pela tal menina, explode do dia pro dia. O público assume que ela é cantora antes dela, o tempo rodou num instante, e às voltas com seu coração. A sequência estava feita: a menina que era atriz, de agora em diante seria cantora.
Mas quando voltou do almoço, às duas horas da tarde, é que a situação estava“ inacreditável”, nas palavras de Vinícius.“ Tinha 40 compartilhamentos. Hoje em dia, não parece um número tão alto, mas na época, foi um número inacreditável. No fim do dia, eram cem. Eu voltei do almoço aquele dia e falei: Porra... tudo mudou, né?”. Gargalhadas. Cinco anos depois, o vídeo foi visto 18 milhões de vezes.
Os números impressionam, mas para Leo Fressato não se comparam aos 30 mil da manhã seguinte:“ Se você soubesse o que eram os 30 mil da manhã seguinte...”, interjeita ele, reticente, sem palavras para descrever o que eu deveria saber.“ Como a gente é poderosíssimo”, se esforça.“ Eu tinha feito uma música de amor para alguém que eu amei muito e tinha 30 mil pessoas cantando! Trinta mil pessoas cantando junto comigo o amor que eu precisava resolver, a dor que eu precisava parar de sentir. Eu me senti tão cheio de cúmplices que eu fiquei...”, literalmente sem
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