É difícil resistir à tentação de escrever sobre a obra de Luiz de Souza sem recorrer àqueles“ falsos adjetivos” – deslumbrante, magnífico, sensacional. Melhor começar então fazendo o contrário, e recorrendo às palavras do próprio Luiz para descrever a tentação em um de seus quadros:“ São Adão e Eva, o amor e o pecado. É de uma série italiana. Falei de amor, usei vários símbolos: a lambreta, símbolo dos enamorados na Itália; as maçãs, símbolo do pecado; os capacetes como se fossem elmos romanos, porque os italianos têm uma paixão, uma coisa bélica. Quis falar de paixão, de compulsão, então enchi a sala de maçãs( já que é pra pecar, então vamos pecar muito)”, finaliza ele, entre parênteses. Ouvir do próprio Luiz a descrição sobre o seu trabalho talvez seja a forma mais fácil de se aproximar das“ tentações” que o motivam.“ Os meus quadros são sempre sobre um ponto de vista, um ser humano observando o outro”, explica ele.“ A lambreta não existiria se não fosse símbolo de uma emoção humana. O meu trabalho é sempre sobre o ser humano.” Luiz pega uma realidade e cria uma fantasia ao redor daquilo.“ Quando é uma crítica social, o tom é geralmente satírico; quando é algo emocional, uma interpretação simbólica.” À primeira vista, seus quadros parecem alegres e pueris, mas assim que mergulha neles, o espectador
“ O meu trabalho é sempre sobre o ser humano”
Artista debruçado em sua obra“ Foz”, e ao fundo, na direita“ Pecado Original”.
percebe que têm algo enigmático, soturno.“ Jogo muita alegria, muita cor, mas as expressões são meio enigmáticas. O sorriso nunca é um sorriso aberto. Os personagens sempre se repetem, afinal, a história da humanidade sempre vai passar pelos mesmos personagens, pelos mesmos arquétipos.” As referências, o artista vai buscar nos tipos fixos da commedia dell’ arte –“ se quero um personagem sedutor, naturalmente chego no Arlequino” – ou nas reminiscências de infância – carros, motos, lambretas.“ Meu pai tinha uma lambreta quando eu era pequeno, então eu já tinha a memória afetiva dela, partiu de um fluxo de consciência. Quando eu passo para a tela, vou pesquisando e acrescentando os detalhes”.