ONE 1 | Page 10

“ Você só vai ser um artista quando começar a se apresentar no eixo Rio-São Paulo: é essa a sensação que você tem quando é criança querendo ser artista em Paranavaí”( Uyara Torrente, vocalista d’ A Banda Mais Bonita da Cidade)
dia em Curitiba e na mesma noite no Brasil todo, no mundo todo”, não necessariamente nessa ordem. Naquele dia, a Banda acordou com apenas um show marcado – Sesc da Esquina, em Curitiba. Dormiu com oito. O primeiro deles em São Paulo, dali a 20 dias.

“ Você só vai ser um artista quando começar a se apresentar no eixo Rio-São Paulo: é essa a sensação que você tem quando é criança querendo ser artista em Paranavaí”( Uyara Torrente, vocalista d’ A Banda Mais Bonita da Cidade)

CANTIGA DE DAR TCHAU
“ Você cresce com a sensação de que só vai ser um artista em potencial, só vai chegar a algum lugar na sua carreira, quando você começar a se apresentar no eixo Rio--São Paulo”, revela Uyara.“ É essa a sensação que você tem quando é uma criança querendo ser artista em Paranavaí, interior do Paraná. E o pior...”, lança ela novamente, revelando nesse ato falho toda a dor e a delícia de ser o que é,“... você chega lá e seu show está lotado, todo mundo cantando junto. Há um mês, ninguém sabia quem você era.”
Do dia 18 de maio, quando foi postado o clipe, até o dia do show, 8 de junho, muita água rolou por debaixo da banda.“ Foi uma parada muito pesada”, revela Vinícius,“ não dá para descrever a sensação”, continua ele, deixando claro a inaptidão da palavra para determinados tipo de coisas.“ Chegou o dia do show e lembramos que a gente nunca mais nem tinha ensaiado.” Até aí, tudo bem: Uyara sabia decor o repertório( ainda que não soubesse cantar!) e sabia que eram todos invencíveis, pode crer! Mas o receio era outro. Era não só que a plateia não soubesse mais nenhuma das músicas, como ficasse repetindo Oração em looping, numa sequência que não estava no plano.
Talvez por isso, inconsciente, a escolha do repertório para começar o show tenha sido por uma Cantiga de Dar Tchau. Se alguma coisa desse errada, eles podiam dizer logo de cara que já estavam de saída.
E quando Uyara começou a cantar o“ horror”, primeira palavra da música e também aquilo que a perseguira pelos últimos 20 dias, a galera já entoava em uníssono o“ amor” que viria depois.“ Eu pensei: cara... as pessoas foram atrás! A gente não é uma banda de um hit só”, lembra ela.“ E aí, nesse momento, eu fiquei com vontade de chorar. Dei uma respiradinha, meio que não acreditando, e continuei”.
Pronto! A menina de Paranavaí tinha cantado nos palcos de São Paulo. Já podia se considerar uma cantora.“ Foi uma sensação muito intensa. As pessoas começam a olhar para você e a julgar o que até então você fazia muito de coração, só no seu cantinho. Em pouco tempo, estávamos cada dia numa cidade, apresentando o que a gente vinha fazendo há anos escondidinho em Curitiba”, conta ela. Foi quase como se o público a descobrisse e a assumisse como cantora muito antes dela mesma.
Fosse como fosse, estivesse onde estivesse, era no palco o destino da menina. É lá que ela, bem pequena, cresce. Para baixo, no entanto.“ No palco, sinto que sou uma árvore. Mais do que pra cima, a sensação que eu tenho é a de que eu estou aterrada naquele lugar.”
SUBMUNDO AUTOFÁGICO
Quando conheci a Banda, em 2009, um dos traços que mais me chamou atenção foi principalmente a autoironia bem-humorada de Submundo Autofágico. A letra começa provocativa, perguntando“ o que é ser famoso pra você?” e sai elencando uma série de parâmetros: um Nobel, um Oscar, um Grammy.
Mas o ponto alto da letra é quando ela reduz o mundo“ só à sua cidade” para aumentar as chances para posteridade e, a partir daí, com propriedade e muita ironia, banaliza todas as noções de fama curitibana:“ Estourar no Sul, quem sabe ganhar um Gralha Azul”( a premiação máxima do teatro paranaense, o“ Oscar das Araucárias”). Só a coluna do Bessa foi devidamente esquecida na letra, porque dá status de socialite, não de artista.
E foi por causa dela, dessa música, que simpatizei com a banda. Era uma banda que, de tão bairrista,
56