O Social - Setembro-Outubro 2019 O Social Setembro-Outubro 2019 | Page 3

ENTR EV ISTA FE R N A N DA ME LC H IONNA D E PU TA DA F E D E RA L (PS OL-RS) A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) fala sobre a tentativa de reduzir os danos da reforma da Previdência para a classe trabalha- dora. Para a parlamentar, a mobilização popular deve continuar, pois foi graças à população nas ruas que medidas danosas, como um aumento maior da idade mínima para aposentadoria foram derrubadas nas vota- “O desemprego bate à porta dos trabalhadores e é preciso manter a defesa permanentemente” O texto da reforma da Previdência, aprovado na Câmara com mudanças no texto original e agora tra- mita no Senado, tem como um de seus principais ar- gumentos um “combate a privilégios.” A senhora entende que esta reforma combate privilégios reais? Ela não combate privilégios. Na verdade, ela massacra o povo mais pobre. Mesmo a última versão aprovada na Câmara prevê que 80% da “economia”, que o minis- tro Paulo Guedes diz que ela vai gerar é em cima da população mais pobre que tem uma aposentadoria média de R$ 1.300,00. Essa economia significa dez anos a mais de trabalho, significa um rebaixamento global no rendimento daqueles que conseguirem se aposentar, à medida que muda a ma- neira de cálculo, significa a exclusão de milhões de pes- soas, sobretudo mulheres, que são as que mais sofrem com rotatividade, exclusão e com os baixos salários, sig- nifica a exclusão dessas pes- soas da Previdência Social. A PEC 06/2019 ataca uma série de direitos trabalhis- tas conquistados ao longo de décadas. Quais foram os pontos negativos já der- rubados? Conseguimos reduzir os danos com a derrubada da idade mínima proposta pelo governo para a apo- sentadoria e da capitaliza- ção da Previdência. Conse- guimos também derrubar a medida que massacrava o BPC [Benefício de Presta- ção Continuada]. O gover- no quer, a todo momento, botar uma transição mais dura para os professores que estão na ativa. Alguns desses pontos negativos que foram derrubados são resultados da nossa luta. É preciso resistir no Congres- so, mas essa resistência é in- suficiente. Vejo que temos esperanças. Temos o exem- plo do 15 de maio, o Tsuna- mi da Educação, uma mobi- lização com uma dimensão como há muito tempo não se via. As paralisações de 14 de junho também foram fortes. Tenho fé na capa- cidade de mobilização da juventude. Resultado disso é a popularidade do presi- dente em queda. Recentemente foi aprova- da a MP 881/2019. O que representa esta medida, que é chamada de “minir- reforma trabalhista”? Essa medida vem imbuída de um discurso de simpli- ficação e colocava várias cláusulas anti trabalhado- res, que transformava o trabalho aos domingos em regra, que excluía o paga- mento do domingo traba- lhado sem o dobro do valor [do dia convencional], além do ponto por exceção que faria com que os trabalha- dores não possam registrar suas horas-extras. Várias cláusulas caíram da MP e a questão dos domingos foi derrubada no Senado. Pre- cisamos estar atentos por- que existe um movimento das classes dominantes que é muito concreto: se aproveitar um governo de agenda ultraliberal para ata- car os direitos da classe tra- balhadora. O desemprego bate à porta dos trabalha- dores e é preciso manter a defesa permanente mente, da luta, da sindicalização, da mobilização porque as elites só querem sacanear o povo. Eles dizem que essas medidas são necessárias para combater a crise eco- nômica quando a gente vê que os ricos estão ficando mais ricos no Brasil, os ban- cos têm tido lucros recor- des e o povo está pagando essa conta. SETEMBRO/OUTUBRO 2019 o social 3