O Social - Janeiro-Fevereiro 2020 Edição 22 | Page 3

ENTR EV ISTA H E RN A N Y C AS TR O ES P EC I A L I S TA E M AS S I ST Ê NCI A SO CI A L População em situação de vulnerabilidade social sem o atendimento necessário, precarização da estrutura e descaso com os servidores estão entre os pontos apontados no balanço do último ano que o especialista traçou em entrevista concedida ao Sindsasc. “A assistência social não esteve na agenda política do governo do DF em 2019” - Como você avalia o ano de 2019 para a assistência social no DF? O governador disse após ser empossado que “go- verno é para pobre”. Não dá para dizer que em 2019 o governo do DF foi para os pobres. O ano foi de grandes dificuldades para a assistência social do DF, o pior nos últimos 10 anos. Não houve competência quando uma família, em situação de vulnerabilidade social, recebe a cesta básica, o benefício eventual ou o benefício excepcional com quatro meses de atraso. A doação de passagens in- terestaduais não existe na prática. Quando uma pes- soa em situação de rua re- quer vaga em acolhimento recebe um “não” como res- posta porque não há vagas, embora o governo se esfor- ce para promover a higie- nização no Plano Piloto. No caso dos idosos, a resposta passa por: “espere alguém que ocupa a vaga morrer para você entrar”. As de- núncias em relação ao aco- lhimento de crianças e ado- lescentes se acumularam. A falta de caixões para enter- ro social foi um escândalo. O Conselho de Assistência Social do DF ficou fechado por quase seis meses. A estrutura de cargos da Se- des foi desidratada, com a transferência de mais de 50 cargos para outros órgãos. Mas o discurso do governo é de normalidade. Como servidor, qual o prin- cipal problema que você aponta na condução da política de assistência so- cial no DF? A assistência social não es- teve na agenda política do governo do DF em 2019. Foi tratada com absoluta indiferença. E isso talvez porque, politicamente, o governo não a reconheça como política pública garan- tidora de direitos. Isso ajuda a explicar a falta de dinhei- ro, por exemplo. O rateio orçamentário e financeiro da receita é realizado com base nas prioridades do governo e não nas neces- sidades da população. Não houve gestão de perfil téc- nico, como prometido. O número de servidores da assistência social do DF é um problema e o con- curso realizado em 2019 segue com falhas a serem resolvidas. Como seria um concurso público ideal para conseguirmos atender ple- namente à população? O concurso ideal é aquele que prevê o número de vagas compatível com a de- manda para atendimento à população e que seja célere na contratação. O concurso em andamento não atende a nenhum desses requi- sitos. É praticamente um natimorto. O número de vagas está muito aquém da demanda estimada. Para se ter uma ideia da defasa- gem, o último CRAS aber- to no DF foi em 2011. De lá pra cá são nove anos e a demanda para a assis- tência social aumentou substancialmente. - Em 2019 o Sindsasc de- nunciou a precarização da assistência social no DF. O que deveriam ser priorida- des para o setor em 2020? O governo deveria dialo- gar mais com a categoria. Valorizar o servidor da car- reira pública de assistência social, pagar a 3° parcela do reajuste retroativa e não seguir com o calote, dar condições de trabalho e de acesso aos equipa- mentos pela população, repor o quadro de recursos humanos, reestabelecer a prontidão das provisões da assistência social. JANEIRO/FEVEREIRO 2020 o social 3