O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 56
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O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Com todas as denúncias feitas pelos
meios de comunicação da época, contra
a desonestidade de alguns criadores de
gado, que vendiam o leite adulterado
para ter mais vantagens sobre os consumidores de seus produtos, era sabido que a adulteração do leite era muito
prejudicial à saúde daqueles que consumiam produtos dessa natureza. No
entanto, mesmo com o passar dos anos,
nada foi feito para mudar essa prática
que continuava acontecendo naturalmente, sem levar em consideração o
bem estar da população, que, desprotegida, consumia o leite e seus derivados
com riscos para a saúde de todo s.
A necessidade de se ter um controle
sobre o processo de higienização do leite se fazia salutar, embora não houvesse
uma forte preocupação com a qualidade
do leite e seus derivados, mas sim com a
quantidade do produto vendido e com
os lucros que os mesmos possibilitavam
aos fazendeiros e demais criadores de
gado.
Também, era vista, nesse tipo de
criação uma verdadeira fonte de renda
sem muitos custos. Afinal, a criação do
gado, dispensava um grande contingente de mão de obra e sua alimentação era
de fácil acesso, de maneira a possibilitar
um maior rendimento ao criador. A ordenha das vacas leiteiras também não
exigia tanto e ao vender o leite e seus
derivados seria sem maiores preocupações, uma vez que muitos desses derivados eram produzidos nas cozinhas, pelas
mulheres da família, não remuneradas
pelos serviços que exerciam58.
No interior de Pernambuco a prática de fabricação de queijo e requeijão
era realizada pelas mulheres, em sua
maioria. O objetivo da produção de tais
alimentos era o de auxiliar nas despesas
domésticas, com a venda dos mesmos,
e o de aproveitamento do excedente
do leite. Entre tantas outras, essa tarefa
era da dona de casa que vivia no campo,
para evitar o desperdício de qualquer
alimento produzido em sua fazenda ou
sítio.
Os alimentos eram levados para
as cidades e vendidos em feiras livres.
Também eram comercializados junto a
alguns moradores das cidades que pagavam diárias e recebiam o leite em sua
porta com a certeza de terem adquirido
um produto de boa qualidade, a partir
do momento que o fornecedor era de
sua confiança. Esse costume perpetuou-se pelas gerações.
Quanto às condições climáticas, destacamos, mais uma vez, que, em período
de seca, a produção do leite tornava-se
escassa e, às vezes, prejudicava a produção de queijo. Havia, naquele espaço,
poucos produtores que tinham uma boa
estrutura na atividade pecuarista para
poder se defender das mudanças provenientes do clima.
Considerando o que dizem as memórias locais, com o passar do tempo,
os produtores passaram a ter mais uma
preocupação com a criação de gado, que
dizia respeito à saúde do animal, a fim
de obtenção de um produto de melhor
qualidade em se tratando de carne, leite, queijo e requeijão. Essa preocupação com a saúde do gado ficou evidente
quando se tratou de vacinar o animal
contra qualquer tipo de doença. O objetivo era torna-se mais competitivo no
Família do Sr. Júlio Pacheco Freire, Na FAZENDA VENCEDORA (ano de 1942), onde eles fabricavam e comercializavam Queijo de Coalho.