O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 26
24
O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
1.2. O leite e o queijo nas práticas culturais
Nos tempos mais antigos, na identificada pré-história, registrou-se que os
homens alimentavam-se de frutos, raízes
e vegetais. Com o domínio da técnica da
caça, por volta de 15.000 a 6.000 a. C.,
eles também passaram a desenvolver a
domesticação de animais, de mamíferos,
do gado, de modo que Elisa Larkin Nascimento4 vem afirmar que houve a prática
da pecuária nas proximidades de Nairóbi,
atual capital do Quênia, na África, em torno de 15 mil anos antes de nosso tempo.
Existem polêmicas, na história universal, sobre o local que teria surgido a
cultura da produção do queijo. Há relatos
com influências de visões míticas, bíblicas,
gregas e asiáticas. Fala-se sobre a possibilidade do queijo ter nascido na África,
possivelmente por ser considerada como
berço da humanidade e mais recentemente das civilizações. Há de ser considerado
que alguns dos seus povos do Norte, como
os haussás, embora não utilizassem o queijo, estavam muito próximos dele, com o
uso da coalhada.
Na mitologia grega, sua difusão incluía
o filho de Apolo, Aristeu, que aprendera a coalhar o leite. Por sua vez, na Bíblia,
encontra-se, no primeiro livro de Samuel, a
menção de Davi presenteando um comandante com uma dezena de queijos. Nessa
discussão a pernambucana de São Bento do
Una, Ivete de Morais Cintra5, em sua obra,
O queijo xucuru, põe-se a comentar que foi
em países da Europa, com clima e pastagens
adequadas que houve a ampliação da produção de queijarias artesanais.
À medida que se inicia a colonização portuguesa no Brasil, de maneira
mais sistemática, a pecuária passa a envolver um grande número de pessoas
na produção de queijos, manteigas e
outros produtos, que se desenvolveriam
na região conhecida desde o século XIX
como o Nordeste do Brasil, diz João
Castanho6 ao falar das queijarias artesanais que se tornaram comumente presentes na gastronomia local no interior
de Pernambuco.
Por sua vez, na história do trabalho,
apresenta-se a divisão de funções entre
homens e mulheres. Diferentes historiadores destacam que a mulher, principalmente nas sociedades agrícolas antigas,
exercia, desde muito cedo, as tarefas de
plantar, colher, cuidar de animais, de hortas, além de outras atividades. No exercício dessas atividades, as trabalhadoras
passaram a aproveitar os excedentes de
alimentação, sobretudo o leite, para o fabrico de outros alimentos, em uma prática