O Mocho Ano 1 - Número 6 - Março 2014 | Page 15

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A ESCOLA E AS NOVAS TECNOLOGIAS

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tudo e para tudo, desde as disciplinas, até às salas e mesmo a processos de utilização para o desenvolvimento de trabalhos individuais e de grupo.

Mas será que a escola mudou assim tanto? Será que a escola está a saber usar os meios tecnológicos que se encontram à sua disposição? Até que ponto é que as escolas têm vindo a formar um espírito correto na utilização dos meios tecnológicos à disposição? Temos conhecimento de muitas escolas em que se noticia a utilização de computadores em vez dos velhos cadernos para escrever. Será que se estará a tirar o correto partido dos meios tecnológicos?

Não querendo ser velho do Restelo, tenho que afirmar que no caso do pré-escolar e do primeiro ciclo, a utilização de meios tecnológicos indiscriminadamente poderá resultar em algo nocivo para o desenvolvimento equilibrado da criança em termos escolares. E explico porquê.

No 1.º ciclo, por exemplo, a criança tem de aprender a ler e a escrever. O processo que se deu com a falta de hábitos de leitura junto da população em geral, acabou por se tornar numa falta de incentivo para desenvolver esse treino. E não há incentivo, pois o gosto dos livros não é hoje o mesmo de há 40 anos. Há 40 anos, a criança não tinha tantos estímulos distratores, e por isso, o recurso ao livro era uma coisa óbvia e certa. Por isso se aprendia a ler ( os que aprendiam) e rapidamente se ganhava celeridade na leitura. Os filmes na televisão eram legendados e tudo concorria para que se tivesse de ganhar treino rapidamente se se queria um lugar ao sol.

Hoje em dia reina o audiovisual. E por isso não é preciso a criança esforçar-se tanto para ler, pois os estímulos provêm de diversas fontes e muitas vezes não há tempo para ler. Os filmes não são legendados para crianças e por isso elas não têm de se esforçar. O mesmo poderá ocorrer com o computador e com a facilidade de utilização dos ícones num iPad.

CONCLUSÃO

As novas tecnologias são de facto importantes e permitem fazer coisas com e para as crianças que de outra forma seriam muito difíceis. Elas facilitam a aprendizagem de uma forma que permite às crianças terem hoje conhecimentos que há 40 anos nem sonhavam.

No entanto, enquanto sociedade, estes avanços têm de ser sopesados de modo a que não se alterem os equilíbrios na aprendizagem das crianças. Estas têm de continuar a necessitar de aprender a ler em papel, a escrever em papel. Não quer isso dizer que o computador não possa fazer parte do retrato de família numa escola. Mas a sensibilidade dos docentes tem de ser grande para poder fazer uma gestão correta das necessidades das crianças e das suas dificuldades de aprendizagem. O senso comum é o que tem de facto de existir numa escola para que não se ponha o carro à frente dos bois. As novas tecnologias são um instrumento, que se pode comparar à evolução que houve ao longo dos tempos com outros instrumentos, desde a ardósia, à esferográfica, ao desaparecimento da tinta permanente, ao aparecimento da calculadora, ao aparecimento dos meios audiovisuais como gravadores de bobine, de cassete, os vídeos VHS e por último os CD e os DVD.

É importante que todos tenhamos consciência da importância da sua utilização, mas simultaneamente também a consciência dos perigos daí resultantes.