O Mocho Ano 1 - Número 4 - janeiro 2014 | Page 12

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Embora o conceito de escola venha dos tempos clássicos, sabemos que nessa altura o conhecimento era apenas para quem tinha posses e geralmente era feito em casa, não havendo aquilo a que hoje chamamos de escola.

É necessário avançarmos muito no tempo, para encontrarmos uma escola já com alguma autonomia, livre da sua dependência do ensino eclesiástico. No século XVIII, o Iluminismo e a importância da Razão levou à consciência geral da necessidade da aprendizagem de conhecimentos devidamente organizados e que permitissem, ou pelo menos facilitassem, as tarefas ligadas à necessidade do desenvolvimento de actividades económicas.

É geralmente aceite por todos o facto de que a escola, tal como a conhecemos, ter-se-á desenvolvido como uma necessidade da sociedade recentemente industrializada. Tal como a Revolução Industrial teve origem na Grã-Bretanha, também a escola, na altura denominada Sunday School (incorrectamente traduzida para português como o equivalente à catequese ) apareceu como forma de dotar as crianças de conhecimentos básicos como a leitura, a escrita e as capacidade de operacionalização aritmética básica.

A escola foi evoluindo nas suas diferentes finalidades, mas, na realidade, os processos usados em sala de aula não evoluíram grandemente desde o tempo dos nossos avós. Penso aliás que, o facto de a escola enquanto instituição de ensino estar a atravessar uma fase complicada se deve à forma como os alunos e as famílias veem a escola e a valorizam. Se compararmos o comportamento das crianças e dos jovens nas escolas de hoje facilmente chegamos à conclusão de que a escola se tem vindo a esgotar e que a massificação do ensino não facilitou a tarefa à escola que tem agora de se haver com muitas crianças que apenas vão à escola porque são obrigadas e não porque valorizam o que ali se faz.

Por outro lado, a escola tem vindo a ser forçada a substituir os educadores naturais, os pais, devido ao facto de a sociedade actual não oferecer grandes disponibilidades para que os valores sejam de facto aprendidos em casa da família, como eram antigamente.

Além disso, na sociedade do conhecimento e num mundo em que as caraterísticas individuais, a capacidade de raciocínio crítico, a criatividade e a autonomia são preponderantes, torna-se necessário rever a forma como são transmitidos os conhecimentos e a forma como as crianças estão motivadas para o esforço e dedicação necessários a uma aprendizagem bem sucedida.

É assim importante reconsiderarmos a tradicional divisão entre Português e Matemática como as principais disciplinas. Não estou a querer destroná-las, mas apenas quero dizer que sem a interacção de outras inteligências que nos caracterizam, não conseguimos um desenvolvimento e aprendizagem integral que nos tornem autónomos e verdadeiramente participantes como elementos de uma equipa

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É imprescindível que todos os docentes comecem a olhar para os seus alunos como seres multifacetados, com interesses diversificados e que necessitam de desenvolver em paralelo às tradicionais disciplinas, todas aquelas que lhes permitem mais facilmente uma autonomia e um reconhecimento pelos seus pares.