O lugar da Memória em Bento Rodrigues – Mariana / MG O lugar da memória em Bento Rodrigues | Page 6

SOBRE MEMÓRIA COLETIVA, PATRIMÔNIO CULTURAL E LUGARES DE

MEMÓRIA: FUNDAMENTAÇÃO

TEÓRICA

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Quadro 1: Fundamentação teórica: principais autores TEMÁTICAS
Psicologia
Ambiental;
Relação
Comportamento
Ambiente
Construído.
Percepção Ambiental; Lugar; Medo; Fenomenologia / Espaço.
Patrimônio Cultural e identidade; Memória e Memória Coletiva; Lugares de Memória; Paisagem.
1.1 Memória e Lugares de Memória: Caminhos conceituais 1.1.1 Memória coletiva
AUTORES
José de Queiroz Pinheiro; Roger Barker.
Yi-fu Tuan.
José Reginaldo Santos Gonçalves; Francisco Das Chagas F. Santiago Júnior; Pierre Nora; Maurice Halbwachs; Jacques Le Goff; Nestor Garcia Canclini.
Do ponto de vista conceitual, busca-se aqui discutir alguns aspectos referentes à memória e seu caráter social, a partir da abordagem de Maurice Halbwachs( 2006) o qual amplia a dimensão da memória para um aspecto coletivo. Caracteriza-se por lembranças compartilhadas, referências de um grupo, vínculos, significações com sentido comum. O plano individual é, assim, ultrapassado, considerando-se que as lembranças não são apartadas da sociedade. Para Halbwachs, tratamse de construções dos grupos sociais, os quais determinam o que é memorável e os lugares onde essa memória poderá preservada:
“ Talvez seja possível admitir que um número enorme de lembranças reapareça porque os outros nos fazem recordá-las: também se há de convir que, mesmo não estando esses outros materialmente presentes, se pode falar de memória coletiva quando evocamos um fato que tivesse um lugar na vida de nosso grupo e que víamos, que vemos ainda agora no momento em que o recordamos, do ponto de visto desse grupo”.( HALBWACHS, 2006, p. 41).
A Memória é, portanto, uma forma de rememoração coletiva que pode estar vinculada a um território, algo que( em algum campo tangível ou intangível) permanece intacto e pertence àqueles que geralmente têm a sua história silenciada.
No que tange à identidade, o estudo apoiou-se nas abordagens de transição das identidades clássicas( nações, classes, etnias) à nova estrutura global, pensando a recomposição das relações sociais( CANCLINI, 2008). A identidade é o mais importante valor de que se dispõe uma comunidade, dando-lhe sentido. Traz-se à luz uma perspectiva de discussão que envolve a ideia de uma identidade coletiva, culturalmente formada, cujo caráter da representação coletiva a ela aliado resultam em um conjunto de significados partilhados( CANCLINI, 2008).
Uma política de patrimônio que reconstrua a memória coletiva dos que perderam a visibilidade, deve ser referência e dar significado a um grupo que carece de direito ao passado e reconhecimento de sua identidade. O dever de memória é uma forma de reparação de erros cometidos no passado com determinadas comunidades, uma forma de reforçar o não esquecimento, quando vítimas se tornam os principais focos da luta e buscam o devido reconhecimento.
1.1.2 Lugares de Memória
“ A memória é uma vivência do passado o qual é presentificado como continuidade. Ela desloca-se de maneira afetiva, quase mágica, entre a lembrança e o esquecimento, emergindo de um grupo social para manterlhe os vínculos. Sua característica fundamental é ser múltipla e desacelerada. Contrasta-se, portanto, com a secura da história( estaríamos mais corretos se a chamarmos de historiografia), a qual é uma reconstrução problemática que não pertence a ninguém( a memória é, lembremos, sempre de alguém ou grupo) cujo fim último é construir rupturas e relativizar a própria memória. Trata-se de uma operação de exorcismo do passado, pois ao inserir os objetos e o mundo na diferença temporal não deixa incólumes os laços afetivos e mágicos da memória”.( SANTIAGO JUNIOR, 2015, p. 251)
A definição de lugar de memória, termo concebido pelo historiador Pierre Nora, se apoia na contraposição entre história e memória. Segundo Nora, a história diverge da memória no sentido de que é uma constatação impessoal dos fatos sempre exposta pelo ponto de vista do superior, enquanto a memória é um processo mnemônico referenciado territorialmente, que remete a um grupo social ou comunidade.( NORA, 1989, p. 8).
Os lugares de memória são lugares significativos que carregam consigo a carga simbólica do patrimônio memorial de uma comunidade, locais dotados de elementos chamados memória-arquivo, capazes de proporcionar uma volta ao passado por meio dos rastros. Representam a memória materializada, como um símbolo, um elemento narrador, mas não são a memória em si mesmos.“ Lugar de memória, [ são ] então: toda unidade significativa, de ordem material ou ideal, que a vontade dos homens ou o trabalho do tempo converteu em elemento simbólico do patrimônio memorial de uma comunidade qualquer”.( SANTIAGO JUNIOR, 2015, p. 268).
Os lugares de memória partem da premissa de que não há memória espontânea. Por isso criam-se também registros e meios de rememoração.
Para Pierre Nora, os lugares de memória passam a ser necessários a partir do momento que a memória precisa ser materializada:
“ Our interest in lieux de mémoire where memory crystallizes and secretes itself has occured at a particular historical moment, a turning point where consciousness of a break with the past is bound up with the sense that memory has