O joo do anjo Carlos Ruíz Zafón - O Jogo do Anjo | Page 19

PDL – P ROJETO D EMOCRATIZAÇÃO DA L EITURA Tomei a liberdade de escrever para externar minha admiração e cumprimentá-lo pelo sucesso alcançado por Os Mistérios de Barcelona durante essa temporada, nas páginas de La Voz de la Industria. Como leitor e amante da boa literatura, é motivo de grande prazer encontrar uma nova voz transbordante de talento, juventude e promessa. Permita- me, portanto, como mostra de minha gratidão pelas boas horas que a leitura de seus contos me proporcionou, convidá-lo para uma pequena surpresa que espero que seja do seu agrado, esta noite, às 12h, em El Ensueño del Raval. Estarei esperando. Afetuosamente, AC. Vidal que tinha lido por cima de meu ombro, ergueu as sobrancelhas, intrigado. — Interessante — murmurou. — Interessante como? — perguntei. — Que tipo de lugar é esse El Ensueño? Vidal tirou um cigarro da cigarreira de platina. — Dona Carmen não permite fumar na pensão — avisei. — Por quê? O fumo atrapalha o perfume da cloaca? Vidal acendeu o cigarro, saboreando-o com o dobro de prazer, como se desfruta tudo que é proibido. — Já conheceu alguma mulher, David? — Claro. Montes delas. — Quero dizer, em sentido bíblico. — Na missa? — Não, na cama. — Ah. — E? O certo é que não tinha grande coisa para contar que pudesse impressionar alguém como Vidal. Minhas andanças e meus namoricos de adolescência tinham se caracterizado até o final por sua modéstia e por uma notável falta de originalidade. Nada em meu breve catálogo de petiscos, carícias e beijos roubados em portões e salas de cinema na penumbra podia aspirar à consideração do mestre consagrado das artes e das ciências dos jogos de alcova de Cidade Condal. — O que uma coisa tem a ver com a outra? — protestei. Vidal adotou um ar de magistério e despejou mais um de seus discursos. — Nos meus tempos de juventude, o normal era, pelo menos para rapazes de boa família como eu, que nos iniciássemos nessas lides pela mão de uma profissional. Quando