Não foi uma acusação formulada por um desafeto político.
Nada disso. A Polícia Federal, diante o destaque daquela evidên-
cia, colocou seus profissionais altamente especializados a inves-
tigar a matéria. O resultado dessas investigações foi encami-
nhado, como de praxe, por tratar-se de quem se tratava, à
Procuradoria Geral da República. E esta entendeu haver ali
material suficiente para denunciar Temer como real dirigente de
uma facção criminosa.
E, aí. Como se comportaram nossos parlamentares? Simples-
mente impediram que a ação judicial prosperasse e se chegasse
ao fim do julgamento. Com isso, diferente do que se divulgou
amplamente, os senhores deputados não decidiram se Temer é ou
não inocente, mas simplesmente permitiram que, não sendo
julgado, prosseguisse como alvo de uma denúncia formal.
E é o que ocorre: a Presidência da República segue ocupada
por um réu de um crime ainda não exatamente definido, mas que,
seja como for, fragiliza em muito o que deveria ser a respeitável
figura do chefe de nosso Poder Executivo.
E é o exato instante em que somos afrontados precisamente
por aqueles legisladores que nós mesmos escolhemos e que, em
vez de levar adiante a solução do problema, buscam, ao contrário,
todo tipo de blindagem capaz de impedir ou, pelo menos, de
procrastinar punições. Tudo, em suma, para comprovar seu
comprometimento com essa mazorca.
Mas é a outro ponto que queremos chegar. Porque, em momen-
tos assim, surgem vozes aparentemente descompromissadas, a
anunciar, na forma usual, que tudo é assim mesmo, porque afinal
a corrupção, no Brasil, já nos chegou com a frota de Cabral, suge-
rindo, com isso, mais a conformação que a revolta.
Só que não foi simples assim. Que houve e segue havendo
corruptos e corruptores não nos deixa qualquer dúvida, mas
esquecem de dizer que também sempre houve quem procurou
agir em sentido contrário,
É o que queremos mostrar que houve.
Nosso Brasil foi descoberto no século 16. Pois, no século 17, o
padre Antônio Vieira, com sua oratória inflamada e magnífica, já
subia ao púlpito, na catedral maranhense, para deblaterar contra
os desmandos das autoridades encasteladas no poder colonial.
Segue seus passos, no 18, o incansável Gregório Matos, já com o
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Arildo Salles Dória