O imprevisível 2018 PD49 | Page 76

Não foi uma acusação formulada por um desafeto político. Nada disso. A Polícia Federal, diante o destaque daquela evidên- cia, colocou seus profissionais altamente especializados a inves- tigar a matéria. O resultado dessas investigações foi encami- nhado, como de praxe, por tratar-se de quem se tratava, à Procuradoria Geral da República. E esta entendeu haver ali material suficiente para denunciar Temer como real dirigente de uma facção criminosa. E, aí. Como se comportaram nossos parlamentares? Simples- mente impediram que a ação judicial prosperasse e se chegasse ao fim do julgamento. Com isso, diferente do que se divulgou amplamente, os senhores deputados não decidiram se Temer é ou não inocente, mas simplesmente permitiram que, não sendo julgado, prosseguisse como alvo de uma denúncia formal. E é o que ocorre: a Presidência da República segue ocupada por um réu de um crime ainda não exatamente definido, mas que, seja como for, fragiliza em muito o que deveria ser a respeitável figura do chefe de nosso Poder Executivo. E é o exato instante em que somos afrontados precisamente por aqueles legisladores que nós mesmos escolhemos e que, em vez de levar adiante a solução do problema, buscam, ao contrário, todo tipo de blindagem capaz de impedir ou, pelo menos, de procrastinar punições. Tudo, em suma, para comprovar seu comprometimento com essa mazorca. Mas é a outro ponto que queremos chegar. Porque, em momen- tos assim, surgem vozes aparentemente descompromissadas, a anunciar, na forma usual, que tudo é assim mesmo, porque afinal a corrupção, no Brasil, já nos chegou com a frota de Cabral, suge- rindo, com isso, mais a conformação que a revolta. Só que não foi simples assim. Que houve e segue havendo corruptos e corruptores não nos deixa qualquer dúvida, mas esquecem de dizer que também sempre houve quem procurou agir em sentido contrário, É o que queremos mostrar que houve. Nosso Brasil foi descoberto no século 16. Pois, no século 17, o padre Antônio Vieira, com sua oratória inflamada e magnífica, já subia ao púlpito, na catedral maranhense, para deblaterar contra os desmandos das autoridades encasteladas no poder colonial. Segue seus passos, no 18, o incansável Gregório Matos, já com o 74 Arildo Salles Dória