O imprevisível 2018 PD49 | Page 67

10 . A personalidade democrática , para não sofisticar muito usando o conceito de sujeito da filosofia ou da psicanálise , é necessariamente aberta a conviver com as incertezas , quer sejam ideológicas ou religiosas . Uma abertura ao outro em nome da tolerância . Aí reside um grande impasse , uma vez que o sujeito diante das suas fragilidades se apega , como forma de dar suporte à sua existência , às certezas da fé e das ideologias . É a certeza cega das minhas convicções que me impede de ver meus defeitos ou aceitar a necessária crítica do outro que pensa e vê o mundo diferente de mim . Considerando que a instância celular de uma nação é o cidadão e sua prática política , podemos dimensionar o enorme desafio que o Brasil tem pela frente .
11 . Uma última reflexão é sobre o questionamento que alguns cientistas políticos vêm fazendo , se as nossas instituições estão funcionando normalmente , ou seja , suspeitando que a nossa democracia é ainda uma semidemocracia . Ora , essa é uma pergunta inadequada . Pois , como processo e não como um fim em si mesmo , um Estado democrático é algo em permanente evolução dinâmica , podendo até mesmo involuir , dependendo das ameaças internas e externas , bastando-nos compreender que , sim , vivemos um ambiente democrático , desde o fim da transição do regime autoritário de 1964 , porém um processo democrático possível , dadas as nossas variáveis históricas e de cultura política . O mais estranho , e aí me volto para o cidadão aturdido com o desnudamento de uma prática atávica de corrupção da nossa elite política e econômica com a Operação Lava-Jato e outras , é que , ao invés de ver nisso um passo importante de depuração do processo político rumo a uma nação democrática moderna e eficaz , busque-se , numa relação infantilizada entre eleitor e representantes políticos , líderes de pés-de-barro , com pouca consistência programática , mas com histéricos discursos manipuladores .
Lições de democracia
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