Gramsci viu a partir da prisão continua aí, provavelmente ainda
maior e mais terrível. Não temos o fascismo dos anos 20 e 30, mas
a complexidade do capitalismo global desafia toda e qualquer inte-
ligência não dialética, seja pela volúpia adquirida pelos mercados e
pelas desigualdades que deles derivam, seja pelas ameaças que faz
a conquistas sociais importantes, seja pela “desorganização” que
está gerando no âmbito dos Estados e da política. É um mundo
marcado pela insegurança e pela incerteza, no qual a ação política
se mostra sempre mais importante mas não consegue fornecer
diretrizes consistentes à dinâmica social e aos cidadãos. Uma
época de “revolução passiva”, como diria Gramsci, na qual os fatos
se afirmam sem direcionamento e a participação é intensa mas
pouco produtiva. Nela, tornou-se decisivo buscar consensos e agir
para criar na “sociedade civil” áreas de disputa por “hegemonia”
(outro conceito gramsciano) que representem possibilidades efeti-
vas de democratização, sem ameaças à liberdade e ao pluralismo,
que são inerentes à modernidade atual.
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Leonardo Cazes