O imprevisível 2018 PD49 | Page 203

importante. Ainda recentemente, o historiador Ivan Alves Filho me comunicava que, no Distrito de Cebolas, hoje Inconfidência, foi graças a essa visão mais aberta ao peso real das tradições orais que se pôde encontrar um dos quartos de Tiradentes manti- dos por quase dois séculos enterrado naquela região. Uma mora- dora local avisara ao prefeito de Paraibuna que os antigos de maior posse tinham por hábito enterrar seus entes queridos em capelas localizadas no interior de suas próprias terras. Acontece que a equipe de arqueólogos que visitara o referido distrito e nada encontrara no pequeno cemitério local já se preparava para ir embora quando dom Jurandir convenceu o prefeito a escavar em torno das ruínas da capela ainda existentes na velha fazenda que pertencera a dona Ana, companheira de Tiradentes. Não deu outra: no pequeno túmulo foi encontrado, ao lado de um corpo feminino intacto, uma perna solitária, confirmando a importân- cia das velhas lembranças... Esta história vem narrada, em deta- lhes, em um livro que Ivan publicará em 2018, intitulado O cami- nho do Alferes Tiradentes. Considerações finais Eduardo Gabarra e eu, ao assumirmos, como assessores, o IAC, sob a direção de Ronaldo Toffoli, procuramos avaliar a situa- ção político-cultural, no que fomos muito bem auxiliados por Flávio Andrade, assessor do IAC. Embora muito investido da linha comunitária, Flávio revelou-se um excelente interlocutor na área cultural em geral. Na verdade, minha experiência e militância no Programa Nacional de Alfabetização reconheceu a validade dos projetos do grupo de Flávio embora não concordasse com a radi- calidade com que se posicionava em relação à política tradiciona- lista do patrimônio. O grupo dele defendia a tecnologia patrimo- nial, o turismo de paisagem para além do barroco, hortas nas escolas e outros projetos de melhoria da periferia e Zona Rural. Também defendia o conceito de patrimônio humano, a história oral. De fato, era a urgência de respostas a estas questões que acabou por acentuar essa radicalização. De outro lado, o Patrimô- nio de Pedra e Cal também exigia respostas face ao volume de problemas que enfrentava diante de uma cidade patrimônio. No fundo, a grande urgência era a da Democracia, impondo um diálogo fecundo aos dois lados. Sob a assessoria de Flavio Andrade, realizamos vários projetos pelo IAC tais como o do Morro do Cruzeiro e o da Farmácia Escolar, e tentamos implementar o Ouro Preto: cidade patrimônio na democratização 201