importante. Ainda recentemente, o historiador Ivan Alves Filho
me comunicava que, no Distrito de Cebolas, hoje Inconfidência,
foi graças a essa visão mais aberta ao peso real das tradições
orais que se pôde encontrar um dos quartos de Tiradentes manti-
dos por quase dois séculos enterrado naquela região. Uma mora-
dora local avisara ao prefeito de Paraibuna que os antigos de
maior posse tinham por hábito enterrar seus entes queridos em
capelas localizadas no interior de suas próprias terras. Acontece
que a equipe de arqueólogos que visitara o referido distrito e nada
encontrara no pequeno cemitério local já se preparava para ir
embora quando dom Jurandir convenceu o prefeito a escavar em
torno das ruínas da capela ainda existentes na velha fazenda que
pertencera a dona Ana, companheira de Tiradentes. Não deu
outra: no pequeno túmulo foi encontrado, ao lado de um corpo
feminino intacto, uma perna solitária, confirmando a importân-
cia das velhas lembranças... Esta história vem narrada, em deta-
lhes, em um livro que Ivan publicará em 2018, intitulado O cami-
nho do Alferes Tiradentes.
Considerações finais
Eduardo Gabarra e eu, ao assumirmos, como assessores, o
IAC, sob a direção de Ronaldo Toffoli, procuramos avaliar a situa-
ção político-cultural, no que fomos muito bem auxiliados por
Flávio Andrade, assessor do IAC. Embora muito investido da linha
comunitária, Flávio revelou-se um excelente interlocutor na área
cultural em geral. Na verdade, minha experiência e militância no
Programa Nacional de Alfabetização reconheceu a validade dos
projetos do grupo de Flávio embora não concordasse com a radi-
calidade com que se posicionava em relação à política tradiciona-
lista do patrimônio. O grupo dele defendia a tecnologia patrimo-
nial, o turismo de paisagem para além do barroco, hortas nas
escolas e outros projetos de melhoria da periferia e Zona Rural.
Também defendia o conceito de patrimônio humano, a história
oral. De fato, era a urgência de respostas a estas questões que
acabou por acentuar essa radicalização. De outro lado, o Patrimô-
nio de Pedra e Cal também exigia respostas face ao volume de
problemas que enfrentava diante de uma cidade patrimônio.
No fundo, a grande urgência era a da Democracia, impondo
um diálogo fecundo aos dois lados. Sob a assessoria de Flavio
Andrade, realizamos vários projetos pelo IAC tais como o do Morro
do Cruzeiro e o da Farmácia Escolar, e tentamos implementar o
Ouro Preto: cidade patrimônio na democratização
201