O imprevisível 2018 PD49 | Page 201

Em carta a mim endereçada, Flávio discorre sobre a equipe pioneira do projeto SPHAN/Ufop/PMOP: “Era uma equipe coor- denada pela Assessoria Cultural da Ufop e que unia técnicos desta (eu incluído) e do Iphan (na época era Subsecretaria do Patrimônio...). Trabalhávamos na Casa da Baronesa, sob a coor- denação do assessor cultural do reitor. Eram desenvolvidos uns 20 projetos, coordenados por pessoas da equipe ou da comuni- dade (saúde, teatro, horta comunitária, salão comunitário, feira de artesanato etc.). As reações aos trabalhos dessa equipe levou a UFOP a solici- tar da Fundação Roberto Marinho um projeto de criação de um novo instituto para o patrimônio que, no caso, seria o IAC, para o qual fomos contratados. Para a equipe do já mencionado projeto, as criticas recebidas colocavam em lados opostos os defensores da linha do Patrimônio de Pedra e Cal (coordenado por Augusto da Silva Teles) e os que defendiam a cultura e os interesses das comunidades. Visto sob a ótica de hoje, talvez essas duas linhas não fossem tão contraditó- rias assim, mas esse era o clima da época. As discussões em torno dos rumos que o país deveria tomar logo após a sua plena redemocratização muito tinham a ver com isso. Seja como for, as urgências de ambos os lados eram signifi- cativas diante da expansão urbana na cidade de Ouro Preto. Cabe lembrar que os efeitos da urbanização se fizeram sentir sobre a destruição dos monumentos históricos, o que levou o Iphan a soli- citar assessoria da Unesco, no sentido de estabelecer medidas para a sua proteção. Assim, muitos foram os desafios a enfrentar além da tradicional falta de verbas. No caso dos defensores da cultura comunitária, motivos sobravam para que interpretassem o conceito de cultura comunitária à luz das demandas locais. A falta de saneamento, as precariedades no tocante ao abasteci- mento de água, a inexistência de escolas de qualidade no interior, os deslizamentos de morros acabaram por fazer com que novas vozes políticas se erguessem no bojo do processo de redemocrati- zação do país. Novos protagonismos iam surgindo na esteira da luta por melhor qualidade de vida da população, paralelamente à luta pelos direitos civis, políticos e sociais. A interpretação da proposta de Aloisio Magalhães por esse grupo elevou à categoria de popular questões sociais próprias de uma cidade cuja configuração urbana degradava o meio ambiente, a ponto de oferecer riscos para a população. E ainda havia as Ouro Preto: cidade patrimônio na democratização 199