Em carta a mim endereçada, Flávio discorre sobre a equipe
pioneira do projeto SPHAN/Ufop/PMOP: “Era uma equipe coor-
denada pela Assessoria Cultural da Ufop e que unia técnicos
desta (eu incluído) e do Iphan (na época era Subsecretaria do
Patrimônio...). Trabalhávamos na Casa da Baronesa, sob a coor-
denação do assessor cultural do reitor. Eram desenvolvidos uns
20 projetos, coordenados por pessoas da equipe ou da comuni-
dade (saúde, teatro, horta comunitária, salão comunitário, feira
de artesanato etc.).
As reações aos trabalhos dessa equipe levou a UFOP a solici-
tar da Fundação Roberto Marinho um projeto de criação de um
novo instituto para o patrimônio que, no caso, seria o IAC, para o
qual fomos contratados.
Para a equipe do já mencionado projeto, as criticas recebidas
colocavam em lados opostos os defensores da linha do Patrimônio
de Pedra e Cal (coordenado por Augusto da Silva Teles) e os que
defendiam a cultura e os interesses das comunidades. Visto sob a
ótica de hoje, talvez essas duas linhas não fossem tão contraditó-
rias assim, mas esse era o clima da época.
As discussões em torno dos rumos que o país deveria tomar
logo após a sua plena redemocratização muito tinham a ver com
isso. Seja como for, as urgências de ambos os lados eram signifi-
cativas diante da expansão urbana na cidade de Ouro Preto. Cabe
lembrar que os efeitos da urbanização se fizeram sentir sobre a
destruição dos monumentos históricos, o que levou o Iphan a soli-
citar assessoria da Unesco, no sentido de estabelecer medidas
para a sua proteção. Assim, muitos foram os desafios a enfrentar
além da tradicional falta de verbas. No caso dos defensores da
cultura comunitária, motivos sobravam para que interpretassem
o conceito de cultura comunitária à luz das demandas locais.
A falta de saneamento, as precariedades no tocante ao abasteci-
mento de água, a inexistência de escolas de qualidade no interior,
os deslizamentos de morros acabaram por fazer com que novas
vozes políticas se erguessem no bojo do processo de redemocrati-
zação do país. Novos protagonismos iam surgindo na esteira da
luta por melhor qualidade de vida da população, paralelamente à
luta pelos direitos civis, políticos e sociais.
A interpretação da proposta de Aloisio Magalhães por esse
grupo elevou à categoria de popular questões sociais próprias de
uma cidade cuja configuração urbana degradava o meio ambiente,
a ponto de oferecer riscos para a população. E ainda havia as
Ouro Preto: cidade patrimônio na democratização
199