O imprevisível 2018 PD49 | Page 197

1980 , a partir da Lei da Anistia de 1979 e daí até a promulgação da Constituição de 1988 .
Para isso era preciso não só repensar a identidade política e social brasileira como também as bases culturais sobre as quais se sustentava o Patrimônio Histórico Brasileiro , enquanto elemento dessa mesma identidade no sentido amplo . A elevação da cidade de Ouro Preto a Monumento Nacional , em 1937 , definiu um marco a partir do qual seria tecida uma boa parte da História do Brasil . Afinal , estávamos diante de uma cidade barroca plena de mensagens icônicas . Para Aloísio Magalhães , o fundador da Pró-Memória , a ênfase a ser dada nessa tarefa implicava ressaltar a dimensão politico-cultural do país , até como forma de religar o Brasil fragmentado pelos tempos ditatoriais , a cultura como parte do desenvolvimento da nação – inclusive no plano econômico . No campo das ideias , Aloísio aproximava-se do criador do projeto de Patrimônio , Mário de Andrade , buscando as características fundamentais da brasilidade onde as manifestações culturais espontâneas valorizadas pela população em geral pudessem servir de referência para a retomada do nosso desenvolvimento . Ou seja , a questão da identidade , posta com tanta clareza pelo Mário , ampliava-se significativamente agora com Aloísio , para quem a nossa autenticidade cultural pressupunha também a criação de uma marca brasileira voltada para a economia de mercado . Tratava-se de um homem contemporâneo , um trabalhador do designer e das artes gráficas , que concebia o artesanato enquanto uma importante expressão de brasilidade , e ainda como atividade pré-industrial em fase quase de desaparecimento , sendo necessário então documentá-lo e , em uma outra fase , tentar influir sobre ele , ajudando na sua dinamização .
Retornando à questão do papel da memória , acreditamos que ela possa ser vista como um campo de disputas , e na luta pela sua construção , debatem-se leituras diferenciadas que muitas vezes colidem ou então até se complementam entre si . Por isso , é necessário que as análises decorrentes de uma dada experiência sejam revistas no decorrer do tempo , para que seu nível de compreensão se amplie . Este é o caso do meu trabalho , qual seja , situar na perspectiva social e política as divergências surgidas em Ouro Preto , nos idos de 1980 , em relação à organização do programa Pró-Memória com base na minha experiência em Ouro Preto como assessora da Fundação Roberto Marinho . Na condição de socióloga , procurei vincular a discussão do Patrimônio , no
Ouro Preto : cidade patrimônio na democratização
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