ideias homens de peso intelectual, muitos até obrigados a deixar o
país, como Josué de Castro, Paulo Freire, Oscar Niemeyer, Ferreira
Gullar, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Leite Lopes, Darcy
Ribeiro e Leandro Konder, dentre tantos outros. De maneira auto-
ritária, como convém a uma ditadura, foi criado o Conselho Federal
de Cultura, em 1966, em seguida a Funarte e a Ancine, entre
outras agências de cultura. E o regime deu nascimento, igual-
mente, ao Programa das Cidades Históricas, de corte acentuada-
mente voltado para o desenvolvimento do turismo, sem qualquer
vínculo maior com o resgate de uma brasilidade histórica que nos
ajudasse a pensar o país democrático que muitos de nós de fato
desejávamos, unindo assim o nacional e o democrático.
Ocorreu uma reviravolta ao longo da década de 1980, quando
se produziu uma espécie de recriação da ideia de Brasil, trazendo
à tona questões já debatidas nas primeiras décadas do século 20,
muito bem fundamentadas na obra e na ação de homens como
Mario de Andrade, Oscar Niemeyer, Rodrigo de Melo Franco, entre
outros. E não podemos nos esquecer do papel jogado pelo Gabi-
nete Capanema. E diríamos que ressurgia igualmente toda uma
discussão em torno de questões levantadas tanto pela sociologia
acadêmica quanto pelos formuladores da economia, com ênfase
no período 1950-1960.
Vale dizer, os embates do nacional-desenvolvimentismo volta-
vam a ocupar, pouco a pouco, a cena política e intelectual, com a
redescoberta da contribuição de cientistas sociais do valor de
Guerreiro Ramos, Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, Caio
Prado Junior.
A Revolução Brasileira corresponde a uma fase histórica em
que o país deveria adotar toda uma série de medidas para comple-
tar as chamadas tarefas nacionais e democráticas em sua trajetó-
ria de desenvolvimento no interior da ordem capitalista. Entre
essas tarefas alinharíamos o direito de voto para os analfabetos,
a reforma agrária e a ampliação do mercado interno. Nesse
sentido, o objetivo era o de assegurar também, entre nós, a marcha
da revolução burguesa implementada, tempos atrás, nas áreas
centrais do planeta. Foi um período muito rico aquele, de eferves-
cência de ideias, tendo o Instituto Superior de Estudos Brasilei-
ros, mais conhecido por Iseb, como grande laboratório.
Na prática, a ditadura montada a partir de 1964 não conse-
guia mais sufocar as preocupações em torno da Revolução Brasi-
leira, que explodem com força total no decorrer da década de
194
Cleia Schiavo Weyrauch