O imprevisível 2018 PD49 | Page 196

ideias homens de peso intelectual, muitos até obrigados a deixar o país, como Josué de Castro, Paulo Freire, Oscar Niemeyer, Ferreira Gullar, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Leite Lopes, Darcy Ribeiro e Leandro Konder, dentre tantos outros. De maneira auto- ritária, como convém a uma ditadura, foi criado o Conselho Federal de Cultura, em 1966, em seguida a Funarte e a Ancine, entre outras agências de cultura. E o regime deu nascimento, igual- mente, ao Programa das Cidades Históricas, de corte acentuada- mente voltado para o desenvolvimento do turismo, sem qualquer vínculo maior com o resgate de uma brasilidade histórica que nos ajudasse a pensar o país democrático que muitos de nós de fato desejávamos, unindo assim o nacional e o democrático. Ocorreu uma reviravolta ao longo da década de 1980, quando se produziu uma espécie de recriação da ideia de Brasil, trazendo à tona questões já debatidas nas primeiras décadas do século 20, muito bem fundamentadas na obra e na ação de homens como Mario de Andrade, Oscar Niemeyer, Rodrigo de Melo Franco, entre outros. E não podemos nos esquecer do papel jogado pelo Gabi- nete Capanema. E diríamos que ressurgia igualmente toda uma discussão em torno de questões levantadas tanto pela sociologia acadêmica quanto pelos formuladores da economia, com ênfase no período 1950-1960. Vale dizer, os embates do nacional-desenvolvimentismo volta- vam a ocupar, pouco a pouco, a cena política e intelectual, com a redescoberta da contribuição de cientistas sociais do valor de Guerreiro Ramos, Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, Caio Prado Junior. A Revolução Brasileira corresponde a uma fase histórica em que o país deveria adotar toda uma série de medidas para comple- tar as chamadas tarefas nacionais e democráticas em sua trajetó- ria de desenvolvimento no interior da ordem capitalista. Entre essas tarefas alinharíamos o direito de voto para os analfabetos, a reforma agrária e a ampliação do mercado interno. Nesse sentido, o objetivo era o de assegurar também, entre nós, a marcha da revolução burguesa implementada, tempos atrás, nas áreas centrais do planeta. Foi um período muito rico aquele, de eferves- cência de ideias, tendo o Instituto Superior de Estudos Brasilei- ros, mais conhecido por Iseb, como grande laboratório. Na prática, a ditadura montada a partir de 1964 não conse- guia mais sufocar as preocupações em torno da Revolução Brasi- leira, que explodem com força total no decorrer da década de 194 Cleia Schiavo Weyrauch