O imprevisível 2018 PD49 | Page 166

castelhana e sulista, essa descentralização semifederalizadora continua sendo mais do que suficiente). A questão gira em torno de um conceito que é tão anacrônico quanto simples de entender: uma nação (espanhola) corresponde a um Estado (espanhol). Paralelamente, com a mesma lógica, aqueles que sentem que são cidadãos de uma nação sem Estado (bascos e catalães, funda- mentalmente) estão desgostosos e desejam alcançá-lo. Esta é a realidade que está subjacente à versão atual do problema dos nacionalismos periféricos. No entanto, como já foi dito, este litígio não é novo. Basta lembrar um famoso debate parlamentar entre o filósofo e depu- tado José Ortega y Gasset e Manuel Azaña (então presidente do governo, que seria presidente da República Espanhola entre 1936 e 1939), sobre o tema do Estatuto da Catalunha. Naquela contro- vérsia extraordinária, tornou-se evidente, mais uma vez, que havia duas formas radicalmente diferentes de conceber tanto a Espanha quanto sua história. A tese de Ortega era contundente: ele rejeitava qualquer reivin- dicação de soberania do lado catalão, tanto que para ele, aceitá-la, significaria imediatamente uma catástrofe nacional. Além disso, acrescentava que a soberania emana do povo, mas não do povo da Catalunha, mas dos espanhóis, de modo que só este último tem o direito de decidir ou não quebrar a convivência. A tese de Azaña estava nos antípodas. O então presidente do governo entendeu que o pedido catalão de autonomia era legítimo, basicamente porque os promotores haviam cumprido todos os procedimentos constitucio- nais e porque considerava que a alegação dos catalães de viver de maneira diferente dentro do Estado poderia ser combinada com os interesses da Espanha no coração da República. Portanto, é devastador notar que, após oitenta e cinco anos, amortizado o oitavo título e algumas partes da Constituição, agora a situação ainda é mais complicada do que em 1932. É porque na atual situação da Catalunha (e, até certo ponto também da Espanha), o eixo esquerda e direita, que foi a espi- nha dorsal da política partidária, foi substituído pelo eixo nacio- nalistas e não nacionalistas. Assim, se teoriza a partir de uma visão separatista e, consequentemente se explica que a política social – terreno no qual a esquerda tradicional deveria continuar se movendo e também a mais recente, como Podemos e Los Comunes – passou a ser matéria postergada sine die entre as organizações independentistas. 164 Joan Del Alcazar