castelhana e sulista, essa descentralização semifederalizadora
continua sendo mais do que suficiente). A questão gira em torno
de um conceito que é tão anacrônico quanto simples de entender:
uma nação (espanhola) corresponde a um Estado (espanhol).
Paralelamente, com a mesma lógica, aqueles que sentem que são
cidadãos de uma nação sem Estado (bascos e catalães, funda-
mentalmente) estão desgostosos e desejam alcançá-lo. Esta é a
realidade que está subjacente à versão atual do problema dos
nacionalismos periféricos.
No entanto, como já foi dito, este litígio não é novo. Basta
lembrar um famoso debate parlamentar entre o filósofo e depu-
tado José Ortega y Gasset e Manuel Azaña (então presidente do
governo, que seria presidente da República Espanhola entre 1936
e 1939), sobre o tema do Estatuto da Catalunha. Naquela contro-
vérsia extraordinária, tornou-se evidente, mais uma vez, que
havia duas formas radicalmente diferentes de conceber tanto a
Espanha quanto sua história.
A tese de Ortega era contundente: ele rejeitava qualquer reivin-
dicação de soberania do lado catalão, tanto que para ele, aceitá-la,
significaria imediatamente uma catástrofe nacional. Além disso,
acrescentava que a soberania emana do povo, mas não do povo da
Catalunha, mas dos espanhóis, de modo que só este último tem o
direito de decidir ou não quebrar a convivência. A tese de Azaña
estava nos antípodas. O então presidente do governo entendeu que
o pedido catalão de autonomia era legítimo, basicamente porque os
promotores haviam cumprido todos os procedimentos constitucio-
nais e porque considerava que a alegação dos catalães de viver de
maneira diferente dentro do Estado poderia ser combinada com os
interesses da Espanha no coração da República.
Portanto, é devastador notar que, após oitenta e cinco anos,
amortizado o oitavo título e algumas partes da Constituição,
agora a situação ainda é mais complicada do que em 1932.
É porque na atual situação da Catalunha (e, até certo ponto
também da Espanha), o eixo esquerda e direita, que foi a espi-
nha dorsal da política partidária, foi substituído pelo eixo nacio-
nalistas e não nacionalistas. Assim, se teoriza a partir de uma
visão separatista e, consequentemente se explica que a política
social – terreno no qual a esquerda tradicional deveria continuar
se movendo e também a mais recente, como Podemos e Los
Comunes – passou a ser matéria postergada sine die entre as
organizações independentistas.
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Joan Del Alcazar