rar, de forma radical, a relação entre tempo de trabalho e tempo
livre (e da própria forma de dispor deste tempo livre), a depender,
claro, das escolhas políticas da sociedade. No momento, em várias
das partes do mundo, o que aparece nítido é o desemprego, por
um lado, e a crise fiscal, por outro, decorrente do envelhecimento
da população, com crescentes custos da previdência social.
No início da revolução industrial, quando um trabalhador
dedicava 16 horas por dia em sete dias da semana (cerca de 112
horas semanais) à atividade laboral, a expectativa de vida flutuava
em torno de 35 anos, de modo que a vida útil dedicada ao traba-
lho era também muito reduzida. Os trabalhadores não tinham
tempo livre ao longo da vida e menos ainda depois da curta e
prematura velhice. Naquela época, não havia férias nem aposen-
tadoria e, mesmo quando esta foi criada, a baixíssima expectativa
de vida tornava impossível o gozo deste benefício de liberdade.
Mesmo mais tarde, no início do século 20, a expectativa de vida
média do mundo ainda era de apenas 43-46 anos.
Os grandes avanços tecnológicos, ao longo dos duzentos anos
do capitalismo, permitiram uma redução continuada e significa-
tiva da jornada de trabalho. Atualmente, na maioria dos países, a
jornada não passa de 48 horas semanais, e várias categorias já
trabalham apenas 35 horas semanais. As sucessivas ondas de
inovação levaram a um aumento significativo e continuado da
produtividade do trabalho, de modo que, mesmo com menos horas
dedicadas à labuta diária, o trabalhador pode gerar um produto
muitas vezes superior. Este aumento da produtividade poderia
provocar desemprego, e provocou, mas também permitiu a redu-
ção da jornada semanal de trabalho, acompanhada de elevação
dos salários, além da introdução de outras formas de tempo livre:
férias, licenças especiais e aposentadoria.
Nos primeiros surtos de transformação tecnológica, algumas
categorias, em alguns países, lutaram contra as máquinas, como
os chamados ludistas da Inglaterra, para não perder os empregos,
num período de rápido crescimento da população e da oferta de
mão de obra. Ao mesmo tempo, outras categorias profissionais, e
em todos os países, disputaram parcelas dos excedentes produzi-
dos pelo aumento da produtividade e/ou brigaram para redistri-
buir melhor o seu tempo, entre menos trabalho (jornada) e mais
liberdade (descanso diário, repouso remunerado, férias e aposen-
tadoria). As tecnologias tornaram possíveis estas mudanças que,
Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica
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