O imprevisível 2018 PD49 | Page 119

rar, de forma radical, a relação entre tempo de trabalho e tempo livre (e da própria forma de dispor deste tempo livre), a depender, claro, das escolhas políticas da sociedade. No momento, em várias das partes do mundo, o que aparece nítido é o desemprego, por um lado, e a crise fiscal, por outro, decorrente do envelhecimento da população, com crescentes custos da previdência social. No início da revolução industrial, quando um trabalhador dedicava 16 horas por dia em sete dias da semana (cerca de 112 horas semanais) à atividade laboral, a expectativa de vida flutuava em torno de 35 anos, de modo que a vida útil dedicada ao traba- lho era também muito reduzida. Os trabalhadores não tinham tempo livre ao longo da vida e menos ainda depois da curta e prematura velhice. Naquela época, não havia férias nem aposen- tadoria e, mesmo quando esta foi criada, a baixíssima expectativa de vida tornava impossível o gozo deste benefício de liberdade. Mesmo mais tarde, no início do século 20, a expectativa de vida média do mundo ainda era de apenas 43-46 anos. Os grandes avanços tecnológicos, ao longo dos duzentos anos do capitalismo, permitiram uma redução continuada e significa- tiva da jornada de trabalho. Atualmente, na maioria dos países, a jornada não passa de 48 horas semanais, e várias categorias já trabalham apenas 35 horas semanais. As sucessivas ondas de inovação levaram a um aumento significativo e continuado da produtividade do trabalho, de modo que, mesmo com menos horas dedicadas à labuta diária, o trabalhador pode gerar um produto muitas vezes superior. Este aumento da produtividade poderia provocar desemprego, e provocou, mas também permitiu a redu- ção da jornada semanal de trabalho, acompanhada de elevação dos salários, além da introdução de outras formas de tempo livre: férias, licenças especiais e aposentadoria. Nos primeiros surtos de transformação tecnológica, algumas categorias, em alguns países, lutaram contra as máquinas, como os chamados ludistas da Inglaterra, para não perder os empregos, num período de rápido crescimento da população e da oferta de mão de obra. Ao mesmo tempo, outras categorias profissionais, e em todos os países, disputaram parcelas dos excedentes produzi- dos pelo aumento da produtividade e/ou brigaram para redistri- buir melhor o seu tempo, entre menos trabalho (jornada) e mais liberdade (descanso diário, repouso remunerado, férias e aposen- tadoria). As tecnologias tornaram possíveis estas mudanças que, Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica 117