Trabalho e liberdade na nova
revolução tecnológica
Sérgio C. Buarque
Q
uando se aposentam, as pessoas podem pensar que,
finalmente, terão liberdade para viver sem obrigações e
com uma renda garantida que, em tese, depende da sua
poupança (contribuição) passada ou da contribuição dos que vão
continuar trabalhando. É verdade que o tempo e as condições
desta “liberdade” dependem do sistema de previdência social,
especialmente da tão discutida idade mínima de aposentadoria,
para não falar das condições de saúde e da expectativa de vida
de cada pessoa. A aposentadoria é apenas uma das formas de
distribuição de tempo do trabalhador ao longo da vida: dedica-se
à labuta por, digamos, 35 anos, para, depois, não precisar mais
trabalhar para viver.
Entretanto, ao longo dos anos, o tempo do trabalhador ainda
tem diferentes formas de distribuição entre trabalho e liberdade
(não trabalho). Dependendo da jornada semanal, o trabalhador
contará ainda com tempo livre durante a semana (um pouco a
cada dia e o descanso semanal dos sábados e domingos), além
dos feriados ao longo do ano e das férias anuais, para não falar
em outros recursos de algumas categorias profissionais, como o
ano sabático, as licenças e repousos remunerados. Assim, a distri-
buição de tempo de trabalho e tempo livre de cada trabalhador
deve ser medida em três recortes temporais: jornada semanal,
distribuição do tempo durante um ano (férias, feriados e licen-
ças), e expectativa de vida ao se aposentar.
Esta equação tem passado por profundas mudanças em todos
os países desde o início da revolução industrial, com uma melho-
ria continuada em favor do tempo livre e, portanto, com a dimi-
nuição do tempo dedicado à produção. E volta agora a ser um
tema central de discussão política pela combinação de dois
processos autônomos e altamente explosivos: a intensidade da
revolução tecnológica, com acelerado processo de automoção e
aumento da produtividade de trabalho, acompanhadas do risco
de desemprego tecnológico; e a mudança da matriz demográfica,
com o envelhecimento rápido da população e redução da parcela
da população em idade ativa. Estas transformações devem alte-
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