3. Cidades e espaços criativos, por sua vez vistos sob distintas
óticas: de combate às desigualdades e violência e de atração de
talentos e investimentos para revitalizar áreas degradadas de
promoção de clusters criativos, a exemplo do distrito cultural do
vinho na França, o cluster multimídia de Montreal, os parques
criativos de Xangai e o polo de novas mídias de Pequim, de trans-
formação das cidades em polos criativos mundiais, não raro de
maneira articulada com a política do turismo e atração de traba-
lhadores criativos que, quando não conduzido, pode incrementar
polarizações sociais e, na ausência do envolvimento comunitário,
promover um esfacelamento das relações locais e a exclusão de
pequenos empreendimentos criativos e da diversidade. E também
volta‐se à reestruturação do tecido socioeconômico urbano,
baseado nas especificidades locais, como é o caso de Guarami-
ranga, no Ceará, com seu Festival de Jazz e Blues, e de Paraty, no
Rio de Janeiro, tendo por bandeira a Flip. Nesse sentido, é curioso
que nenhuma cidade do Brasil tenha se candidatado a compor a
Rede de Cidades Criativas da Unesco, que reúne hoje mais de 15
cidades de todo o mundo.
4. Economia criativa como estratégia de desenvolvimento,
desmembrando‐se em duas abordagens complementares.
A primeira tem por base o reconhecimento da criatividade,
portanto do capital humano, para o fomento de uma integração
de objetivos sociais, culturais e econômicos, diante de um modelo
de desenvolvimento global pós‐industrial excludente, portanto
insustentável. Nesse antigo paradigma, a diversidade cultural e
as culturas em geral podem ser vistas como obstáculos ao desen-
volvimento, em vez de nutrientes de criatividade e de resolução
dos entraves sociais e econômicos.
Vemos assim que a economia criativa ou, de forma mais focada
em cultura, a economia da cultura, não é política cultural, não se
propõe a definir os rumos da política cultural e tampouco defende
que a cultura deve se curvar à economia ou – como às vezes se
acredita, de maneira muito equivocada – ao mercado. Ao contrá-
rio, a economia da cultura ou economia criativa oferece todo o
aprendizado e o instrumental da lógica e das relações econômicas
– da visão de fluxos e trocas; das relações entre criação, produ-
ção, distribuição e demanda; das diferenças entre valor e preço;
do reconhecimento do capital humano; dos mecanismos mais
variados de incentivos, subsídios, fomento, intervenção e regula-
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Ana Carla Fonseca