O imprevisível 2018 PD49 | Page 116

3. Cidades e espaços criativos, por sua vez vistos sob distintas óticas: de combate às desigualdades e violência e de atração de talentos e investimentos para revitalizar áreas degradadas de promoção de clusters criativos, a exemplo do distrito cultural do vinho na França, o cluster multimídia de Montreal, os parques criativos de Xangai e o polo de novas mídias de Pequim, de trans- formação das cidades em polos criativos mundiais, não raro de maneira articulada com a política do turismo e atração de traba- lhadores criativos que, quando não conduzido, pode incrementar polarizações sociais e, na ausência do envolvimento comunitário, promover um esfacelamento das relações locais e a exclusão de pequenos empreendimentos criativos e da diversidade. E também volta‐se à reestruturação do tecido socioeconômico urbano, baseado nas especificidades locais, como é o caso de Guarami- ranga, no Ceará, com seu Festival de Jazz e Blues, e de Paraty, no Rio de Janeiro, tendo por bandeira a Flip. Nesse sentido, é curioso que nenhuma cidade do Brasil tenha se candidatado a compor a Rede de Cidades Criativas da Unesco, que reúne hoje mais de 15 cidades de todo o mundo. 4. Economia criativa como estratégia de desenvolvimento, desmembrando‐se em duas abordagens complementares. A primeira tem por base o reconhecimento da criatividade, portanto do capital humano, para o fomento de uma integração de objetivos sociais, culturais e econômicos, diante de um modelo de desenvolvimento global pós‐industrial excludente, portanto insustentável. Nesse antigo paradigma, a diversidade cultural e as culturas em geral podem ser vistas como obstáculos ao desen- volvimento, em vez de nutrientes de criatividade e de resolução dos entraves sociais e econômicos. Vemos assim que a economia criativa ou, de forma mais focada em cultura, a economia da cultura, não é política cultural, não se propõe a definir os rumos da política cultural e tampouco defende que a cultura deve se curvar à economia ou – como às vezes se acredita, de maneira muito equivocada – ao mercado. Ao contrá- rio, a economia da cultura ou economia criativa oferece todo o aprendizado e o instrumental da lógica e das relações econômicas – da visão de fluxos e trocas; das relações entre criação, produ- ção, distribuição e demanda; das diferenças entre valor e preço; do reconhecimento do capital humano; dos mecanismos mais variados de incentivos, subsídios, fomento, intervenção e regula- 114 Ana Carla Fonseca