Como foi o início da sua vida como empreendedora?
Na verdade o começo da NL foi, também, o começo deste tipo de serviço: desenvolvimento e implantação de sistemas. Até então apenas as grandes empresas possuíam computadores. As demais usavam os serviços de beraux (empresas com computadores que processavam os dados das outras empresas). E ambas usavam desenvolvimento próprio. O nosso crescimento se deu pelo boca a boca: clientes que nos indicavam e fornecedores de computador que ofereciam nosso sistema junto com o computador. Nosso maior desafio foi e ainda é o de atender bem o cliente. Com o crescimento da empresa precisamos contratar funcionários, e nos preocupamos em treiná-los muito bem para que todos trabalhassem da mesma forma. Hoje vemos que essa foi uma decisão importante, já que a NL foi a primeira empresa de TI a receber, em 1998, a certificação ISO 9001. E desde então investimos forte em qualidade, com os programas CMM e atualmente MPS/BR, que são programas de qualidade específicos para desenvolvedores de software.
Você procurou se capacitar para profissionalizar sua gestão?
A minha capacitação sempre foi mais voltada aos cursos técnicos. Mas tínhamos funcionários responsáveis pela parte contábil e fiscal da empresa. Em 1997/98 fiz a pós-graduação em Gestão Empresarial pela FGV. E apenas em 1996 fizemos, com ajuda de um consultor, o primeiro Planejamento Estratégico da NL. Desde então o realizamos e acompanhamos todos os anos.
Qual foi o momento mais difícil da sua trajetória de empreendedora?
Em 1986, com o crescimento da empresa, decidimos pela construção de uma nova sede própria, com 2.300 m² de área construída. Contamos com o financiamento do BRDE, que após o repasse de 2 das 6 parcelas, sofreu intervenção do Banco Central e deixou de cumprir o contrato de nosso financiamento.
Passamos por uma fase muito difícil para saldar as dívidas que ficaram pendentes. Foram 2 anos de muito trabalho, eu e meu sócio ficamos mais de 1 ano sem receber salário e sem retirar nada de dividendos. Foi terrível, mas conseguimos.
Sabemos que errar faz parte do jogo. Houve alguma estratégia que se mostrou errada, durante a trajetória da NL?
Em 1991 criamos o sistema de franquias, para vender e implantar o sistema. Mas como não fizemos um bom planejamento, a seleção dos franqueados tinha poucos requisitos. Isso nos trouxe muitos problemas, como clientes mal atendidos, reclamando do atendimento, insatisfeitos com a NL. Decidimos fechar as franquias e tivemos que arcar com os custos de todo o processo.
Como o Processamento de dados entrou na sua vida?
No último semestre do segundo grau, as universidades visitavam os colégios e distribuíam folhetos dos seus cursos. E foi assim que tomei conhecimento do curso de Tecnólogo em Processamento de Dados, com duração de 3 anos. Apesar de não saber muito bem do que tratava - naquela época, em 1979, esta era uma área pouco conhecida-, fiquei interessada por ser um curso curto. Pensei que se não desse certo, poderia seguir outra carreira. Mas já desde a primeira aula de programação eu me apaixonei pelo tema. Depois que me formei passei a trabalhar como analista de sistemas em uma grande empresa em Caxias do Sul.
Como surgiu a ideia de empreender e montar a NL Informática?
Em 1984, fui convidada pelo meu sócio, Sr. Nelço Angelo Tesser, para trabalharmos juntos. No início não tínhamos muito planejamento, atuávamos de forma muito intuitiva. Posso dizer que fomos trabalhando, séria e honestamente, e as coisas foram acontecendo.
Como funciona a NL Informática?
A NL é uma desenvolvedora e implementadora de sistema de gestão (ERP). Ou seja, desenvolve, vende e implanta o sistema, prestando a devida consultoria e treinamento. E além das funcionalidades genéricas, também atendemos necessidades específicas dos clientes, fazendo desenvolvimentos orientados As suas necessidades.
Qual é a parte mais difícil de concretizar o seu negócio?
Acompanhar a evolução tecnológica. Nestes 35 anos da NL já passamos por 8 linguagens de programação. Trocamos 3 vezes de banco de dados. E a cada troca, temos que reescrever todo o sistema. Isso quando falamos de um sistema que engloba mais de 15000 programas é um esforço gigantesco. São muitas horas de trabalho e um custo muito alto. Além disso, vender serviço não é simples, pois não temos um produto que o cliente possa ver. E por isso temos que vender confiança, fazer o cliente acreditar que o nosso software vai ajudá-lo no crescimento de seu negócio.
Depois de 35 anos da NL, a realidade é outra, e processamento de dados já não é mais novidade. Como a empresa se mantém, diante da grande concorrência?
Através de um produto consolidado e tecnologicamente atualizado, adaptável à realidade de cada cliente, e especializado em vários segmentos, por exemplo, refeições coletivas, varejo de moda, postos de combustíveis, material de construção.
Quais seus planos para o futuro?
Realizar a sucessão na NL, para que ela continue mesmo sem o comando dos sócios-fundadores.
Como é sua atuação na empresa?
No início, só tínhamos um funcionário e fazíamos de tudo: definição, análise, programação, testes, implantação, treinamento... Aos poucos, fomos estruturando o negócio: meu sócio ficou focado na área comercial e consultoria, e eu na área de desenvolvimento. E até hoje, atuo nesta área, participo das definições do que e como desenvolver.
Segundo informações da edição de 2016 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ocupam apenas 20% das vagas do setor de tecnologia da informação no Brasil.
Na sua opinião, a que se deve este baixo resultado?
Acredito que seja por ser uma área técnica e, até bem pouco atrás, as mulheres costumavam optar pelas áreas de humanas. Era quase uma tradição: homens em exatas, mulheres em humanas. Ainda bem que esta realidade está mudando. Mas apesar das estatísticas, eu nunca tive problemas ou sofri discriminação por trabalhar numa área com mais homens do que mulheres. Acredito que gostando do que se faz, tudo é possível. Na NL, por exemplo, trabalhamos pela igualdade de gêneros e mantemos um equilíbrio entre funcionários femininos e masculinos. O que importa é a competência.
Elas .S.A.