Ano XV | Edição 35 | 28
A TRANSIÇÃO DA MORTE
A Maçonaria ensina àquele que a estuda o que é a morte , preparando os seus adeptos a encará-la com tranquilidade .
Ofim é o princípio de tudo - Para ser maçom , na estrita razão da expressão , é necessário que se creia em DEUS , qualquer que seja a percepção dele , e , que , também , creia na vida eterna tendo fé numa existência de vida posterior , vida além desta que conhecemos .
Na construção de si mesmo , no aprofundamento filosófico , na descoberta do seu próprio “ EU ”, no estudo e entendimento dos significados dos seus símbolos o maçom indubitavelmente se defrontará com o significado da vida e da morte de seu corpo físico . Perder o medo da morte propiciará formas outras de se admirar e sorver a vida com sabedoria ; viver sem medos e ou dúvidas , sem questionamentos , sem interrogatórios de sobre o quanto durará este bem ( vida ) que DEUS lhe permitiu desfrutar , viverá , então , o homem de forma melhor e em paz .
Início de uma etapa - A Maçonaria , na sua síntese tradicional , nos seus princípios filosóficos , preocupa-se com instruir os seus adeptos para que enfrentem a morte como fato normal . Na Câmara de Reflexões a morte é representada pela ilustração de um esqueleto humano .
A morte designa a cessação da vida , animal ou vegetal ; a destruição , o fim , o termo . Toda a escalada da Iniciação Maçônica é , simbolicamente , uma sucessão de mortes e ressurreições , através das quais o Candidato morre para as trevas e renascepara a Luz . A Cerimônia de Iniciação já mostra isso : a Câmara de Reflexão , onde o Candidato permanece durante algum tempo , tanto simboliza o útero ( da Terra ), de onde ele nasce , quanto a tumba , de onde renasce . Na lenda do terceiro Grau , a morte do Mestre Hiram Abi , o Símbolo da Sabedoria e da Virtude , assassinado pela inveja , pela ambição e pela mentira , é seguida pela sua ressurreição num plano mais elevado , ao qual devem ascender os Mestres , na plenitude de sua Luz
espiritual e mental .
O maçom trabalha , incessantemente , do “ meio dia à meia noite ” para se aperfeiçoar em busca da LUZ sobre si mesmo até que chegue o momento em que sua permanência neste mundo se esgote fazendo-o repousar suas ferramentas , atinge , então , a perfeição , o melhor que fez e que conseguiu ser diante dos homens e de DEUS . E , a meia noite , ao morrer , ele , o maçom , vê brilhar a LUZ ETERNA e segue em direção ao Oriente Eterno .
A doutrina maçônica insinua que a morte não é um fim absoluto , mas o fim de uma etapa ou do corpo material tão somente . A morte sugere a ideia de transformação , renascimento , redenção e se associa com o momento que precede à Iniciação . A Maçonaria crê , e é um dos princípios básicos de sua filosofia , em uma Vida futura além-túmulo ; porém faz da Morte uma passagem obrigatória face uma lei da Natureza e não se detém em dogmas que prometem fáceis transições sem dor .
O homem profano recebe a Morte como ponto final , fugindo dela com desespero e tentando dilatar o tempo , para que nunca chegue , enganando-se com o emprego de mil subterfúgios para banir sua efígie , pois ignora que este ponto final constitui a oportunidade da construção de uma fase ; é o Princípio de Tudo , ou seja , do que realmente existe de glorioso .
A morte do ser humano - pode ser uma “ liberação ” para o “ voo ” em direção ao infinito e ao incognoscível ; é a preparação para a “ putrefação ” que significa a destruição , pela fermentação da matéria que compõe os seres vivos ; uma maçã putrefaz-se e então se diz que está “ morta ”. Esse entendimento diz respeito ao corpo físico . Sua morte “ libera ” a semente que lhe será sobrevida .
A morte do ser humano , contudo , não corresponde a um estágio final , terminal e
destrutivo , sim a um princípio que conduz a um segundo estado de consciência , obviamente espiritual . Hoje a ciência aceita um ser humano como morto quando cessam as funções cerebrais .
O ser humano pode viver durante um longo período com corte cerebral , sem qualquer perspectiva de retorno à atividade , uma vez que o cérebro cesse suas funções . Será nesse estado que a ciência retirará os órgãos destinados a serem transplantados em outro ser humano ; para o doador , significará uma “ sobrevida ”.
A Boa Morte - Algumas igrejas têm a sua denominação como “ Nossa Senhora da Boa Morte ” ou ainda “ Nosso Senhor do Bomfim ”, resgatando a antiga preocupação do ser humano com morrer bem . Morrer bem , para a sabedoria popular , indica o morrer dormindo ou de forma imediata , rechaçando a morte lenta e com sofrimento .
A Igreja Católica tem como um de seus sacramentos a extrema-unção , ou unção dos enfermos , conferidos às pessoas que estão em estado grave de doença , buscando aliviá- -las e prepará-las para a transição da morte . Os egípcios enchiam a tumba de riquezas e alimentos para atender ao morto do outro lado . Seria ilusória acharmos que a boa morte é um privilégio nosso , por termos o conhecimento maçônico . A vinculação com a conduta terrena é límpida no processo de preparação para uma boa morte !
Aceitar a morte como destino do homem é coisa biológica , fácil , principalmente a dos outros , mas , aceitar a morte pessoalmente , individualmente , a sua própria ou de familiares , é realidade distante e impensável enquanto se está sadio .
A morte se processa ao longo da vida , dentro da vida , morremos aos poucos todos os dias , ela não vem de fora , perdemos dia a dia a nossa força vital ; ela , a vida , esvai-se na medida em que o tempo avança . Fugimos daquilo que não dominamos e tudo só nos é ensinado sobre a vida , mas , sobre a morte e ou o ato de morrer preferimos esconder , calar e tratar como coisa misteriosa . Precisamos parar de olhar para a morte como coisa hostil e olhar para ela naturalmente , pois , é coisa que pode nos acometer a qualquer momento da vida .
Nascimento e morte - O contrário da morte não é a vida , mas o nascimento . Morrer faz parte desse nosso nascimento . Não podemos razoavelmente aceitar o nascimento de nosso corpo sem aceitar sua morte . A recusa a morrer vem de outro lugar , de outra fonte , de outra voz , de nossa