O Boêmio 286

Matão (SP), 11 de Outubro de 2013 — Ano 23 — nº 286 Cultura popular independente e evolucionária! "Sê gracioso para conosco, ó Eterno, sê gracioso para conosco, pois já estamos completamente fartos de desdém. Nossa alma transbordou com o menosprezo dos tranquilos e com o deboche dos arrogantes." / Salmo CXXIII FARMÁCIA Nª Sª APARECIDA Rua João Pessoa, 691 Centro Ÿ Fone 3382-1240 A livraria amiga dos estudantes! Leia e assine O Boêmio! Neste Dia da Criança tem muito Criança, adulto querendo presente Tazoom! 16 3384 7019 Rua João Pessoa, 1.047 — Centro Encadernações de livros e fotos, embalagens em geral, cópia preto/branco e colorida, restauração. Av. Tiradentes, 766 Centro Ÿ Fone 3382-1985 Este será um país livre quando nenhuma criança passar fome ou estiver sem escola! jornal o boêmio IGNORÂNCIA CONSUMADA Tentando tapar o sol com a peneira, orgulhosos da própria ignorância, seguem os homenzinhos entediados a caminho do trabalho. Ali, sob o manto da produtividade e da autoridade contumaz, podendo subjugar "seres inferiores", eles se realizam vivendo uma realidade ilusória que satisfaz por instantes a sanha inconsequente de buscar prosperidade (detonando o planeta) e acumular dinheiro (humilhando pessoas). Pouco depois, a solidão se faz notar. Com tanto dinheiro no bolso e ainda assim morrendo pouco a pouco, vitimados por doenças que acometem um espírito desolado repleto de maldade. Mentes quem mentem, enganam, trapaceiam, não possuem amigos a não ser a própria esfacelada face refletida no espelho. Querem enriquecer sozinhos, mas para o fundo do poço levam quantos puderem. Submergindo no lodaçal imundo que lhes rouba identidade, ideal, honestidade e respeito, são monótonos e iguais. Homúnculos de negociatas! Meramente confusos, violentos e depressivos, passando por cima de tudo e de todos para chegar lá. Aonde eu vou, não sei, mas sigo pensando que é melhor viver gritando do que calado definhar sem motivos para resistir. A escuridão não é apenas ausência da luz, mas um modo de se posicionar frente aos acontecimentos, onde somos protagonistas ou espectadores. O sistema é bruto, sim, mas meu coração acolhe a quem se aproxime com flores nas mãos, sementes de hortaliças e cereais, propósitos comunitários. Apreciamos a natureza, seguimos o rio em sua correnteza, ecoamos a algazarra da floresta, mesmo que seja a floresta urbana, onde o caos e a mansidão se juntam na praça em frente à matriz. O pássaro que tem seu ninho na árvore centenária e histórica convive com o mendigo simpático que dorme nos bancos ao redor da fonte e é expulso dali todas as manhãs, pela gritaria das crianças. Nos dias de semana, o centro da cidade lembra um alegre e colorido formigueiro humano, cada formiga sentindo-se única, cruzando apressada, algumas em grupos, tagarelando sobre o clima, futebol, compras, dívidas, dúvidas... Aglomerados lendo as manchetes nos jornais da banca de revistas. Formigas fêmeas carregando imensas bolsas com quinquilharias e formigas homens com chapéu, cartão de crédito e horários a cumprir. "Somos todos penitentes e reféns do relógio", diz um chapeleiro maluco enquanto corre a pagar uma conta. "O tempo somos nós quem fazemos pois possuímos o livre arbítrio", retruca o formigão escolado, desviando-se de um cocô de cachorro. E a correria da metrópole vai engolindo um a um, do beato de olhar escarnecido ao meliante vestindo terno e gravata. Da menina vaidosa que se julga a mais bela da vila à velha senhora que sabe que tudo é ilusão. É preciso esvaziar os sentidos e abrir os olhos para enxergar plenamente. Relativizar opiniões, acalmar sentimentos, energia e pensamentos. Homúnculo de negociatas, escravo do capital — cinza, árido e frio: coloque o pé na terra. Tenha medo, assuste-se, irrite-se com a impotência em modificar o destino, quando mais é preciso. Não é tudo que podemos comprar, você percebeu?