projetos
As feridas abertas
da cidade de Mariana
Alunos que visitaram,
em 2016 e 2017,
região afetada por
desastre ambiental
se encontram para
comparar impressões
E
m 5 de novembro de 2015, o
Brasil vivia seu maior desas-
tre ambiental. A barragem de
Fundão, em Mariana (MG), rompia,
provocando um tsunami de lama
tóxica, que percorreria 640 km pelo
rio Doce, passando por mais de 40
cidades de Minas Gerais e do Es-
pírito Santo até chegar ao oceano.
Vilas inteiras ficaram destruídas,
19 pessoas morreram e outras mi-
lhares perderam suas casas e seus
trabalhos. A estrutura era operada
pela Samarco, empresa de minera-
ção da Vale e da BHP Billiton.
Seis meses depois da tragédia, os
alunos do 8º ano do Colégio Santo
Ivo realizaram estudo do meio nas
cidades históricas mineiras e incluí-
ram em seu roteiro visita às regiões
devastadas pela lama. Um ano e
meio depois, foi a vez dos estudan-
tes do atual 8º ano verem de perto
como estão os municípios afetados.
Para comparar a impressão que
as visitas causaram em cada uma das
turmas, alunos das duas séries se en-
contraram em junho, para conversar
sobre suas experiências no local.
Segundo o aluno Rafael Ferrini
Doss, que visitou a região em 2016, o
cenário que eles encontraram no ano
passado era de devastação. “O vila-
rejo de Paracatu e a cidade de Barra
Longa estavam destruídos”, afirma.
Alunos do 8º ano do Santo Ivo visitam, neste ano, vilarejo de Paracatu (MG),
destruído pela lama
Rafael conta que em Barra Longa,
a 70km de Mariana, por exemplo, a
poeira ainda não havia baixado. Lite-
ralmente. Na época, o município ain-
da sofria muito com os rejeitos secos
nas ruas e fundos das residências.
“Havia poeira por todo lado”, conta.
Conversamos com pessoas
que, de um dia para outro,
ficaram sem ter onde morar
e perderam seu sustento.
Quando vemos pela TV, não
personalizamos o desastre.
De perto, ele vira real
Rafael Ferrini Doss,
do 8 o ano
Chiara Moutinho Vieira, do 8º
ano A, que participou do estudo do
meio neste ano, diz que algumas
coisas estavam melhores quando
ela foi. “Uma praça de Barra Longa,
que foi engolida pela lama, já esta-
va totalmente reconstruída. Tam-
bém já não existia mais toda aquela
poeira que eles encontraram em
2016”, descreve a estudante.
De acordo com ela, porém, há
muito o que se fazer. “Paracatu ainda
não passou por reconstrução algu-
ma. É uma cidade fantasma. Ainda
era possível encontrar objetos que
as pessoas deixaram para trás na
hora do desastre, como cobertores,
material escolar, brinquedos.”
Ambos os alunos concordam
que é muito mais impactante ver
in loco a dimensão da tragédia. “É
triste demais ver aquelas constru-
ções que um dia foram um salão
de beleza, uma casa, um bar e hoje
resumem-se a um monte de entu-
lho. Quantas vidas não foram des-
truídas?”, diz Chiara. “Conversamos
com pessoas que, de um dia para
outro, ficaram sem ter onde morar
e perderam seu sustento. Quando
vemos pela TV, não personalizamos
o desastre. De perto, ele vira real”,
conclui Rafael.
JORNAL SANTO IVO
13