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Entrevista
ENTREVISTA: MULHERES E O
MERCADO DE TRABALHO
Por Karen Pegorari Silveira
Entrevistamos Ana Paula Dente
Vitelli Morgado, doutora na
linha
de
Estudos
Organizacionais.
Entrevistador: Pode-se dizer
que para as mulheres ainda é
mais difícil subir na carreira do
que para os homens? A que
você credita isso?
Ana
Paula
Dente
Vitelli
Morgado – Entendo que esta
questão tem diferentes facetas.
Por um lado, vemos que
existem barreiras reais que se
colocam às mulheres, ainda que
não sejam explícitas.
Por
exemplo, as mulheres que têm
filhos são muitas vezes vistas
como menos comprometidas
com
o
trabalho,
o
que
inevitavelmente as coloca em
uma posição de desigualdade
de oportunidades. Ou ainda,
dependendo
do
setor,
as
mulheres são vistas como figura
frágil que não se encaixa no
contexto masculino de alta
competitividade
e
agressividade presente nos
altos escalões.
Estas percepções relevam
estereótipos que se colocam
às mulheres derivados de um
contexto
histórico
de
dominação masculina:
a
partir da revolução industrial,
a esfera do trabalho e a
esfera
do
lar
foram
claramente
separadas
e
diferenciadas, inserindo o
homem no contexto do
trabalho e confinando a
mulher à casa com os
cuidados domésticos e com
a família. Este arranjo social
manteve-se
até
a
deflagração do movimento
feminista na década de 70,
quando
se
passou
a
questionar
o
papel
da
mulher
na
família,
no
trabalho e na sociedade, na
busca pela transformação
nas relações humanas e pelo
abandono
das
relações
baseadas na discriminação
de gênero. Existe, portanto,
uma questão histórica que
não
pode
ser
desconsiderada: apesar dos
imensos
avanços
das
mulheres no mercado de
trabalho nos últimos 50 anos,
mudanças
sociais
significativas levam tempo.