My first Magazine Revista Sarau Subúrbio ed 02 | Page 33

Um dia me contou que na juventude fora militar e, num baile do pessoal das forças armadas, dançara com a mulher de um oficial superior, com quem flertara durante a dança. Soube (ele) que depois, manifestado o ciúme do marido, a moça confessara acintosamente que gostara do comandado: por isto, o oficial teria conseguido um pretexto para desempregá-lo. Não contava do que teria vivido antes de optar pela mendicância... ou se ter- se-ia entregado à indigência lopo após o episódio. Mas o fato é que gostava de andar com roupas sujas e velhas e de viver dos expedientes de que já falei. Vez por outra sumia. Quando se perguntava pelo velho, diziam que havia morrido. Passavam-se dois ou três meses, reaparecia. - Lobato, mas disseram que você... - Que eu tinha morrido, eu sei. Brincalhão e divertido, outros jovens gostavam de ficar em torno dele. Os mais maduros gostavam de ocupá-lo para confabulações mais sérias e mais cultas. Sumiu duas, três vezes, e voltou sempre se dizendo sabedor do boato de que morrera. Uma vez desapareceu e nunca mais voltou. Uns quinze anos mais tarde alguém me contou que realmente morrera: resolvera integrar-se à sociedade, fora morar com a família, arranjara um emprego de motorista e morreu num acidente de automóvel. O nome do homem não é fictício, era este realmente culto, irreverente e respeitado pelos que também o eram(cultos), vivia embriagado e ganhava a vida com desenhos no chão e biscates, mas todas as outras histórias soube através dele próprio e das pessoas que o rodeavam. Até a morte soube por intermédio de um conhecido comum. Mas que era uma criatura fascinante, inegavelmente era. B a r ã o d a M a t a