O POETA DAS TRÊS RAÇAS
A Noite nunca foi tão noite , Havia até um certo pavor de Nunca mais clarear .
Violeiros , poetas e amantes tentavam Laçar a lua num frenesi incontido , Todos embebidos por um céu cravejado Com estrelas de prata .
Nas ruas , nos bares , nos becos , vielas , terreiros e favelas , O vento dançava uma dança profana e sagrada , Que convidava ao exercício do prazer .
Serenatas , madrugadas , violões , atabaques , serestas , O subúrbio estava em festa . Solidão passeava de mãos dadas Com a saudade , Ao som de um cavaquinho Que chorava de mansinho a dor de estar feliz ...
Ninguém há de esquecer Aquele perfume de melancolia , Que um samba dolente Fazia toda gente Pensar em viver .
Nos campos e matas A bicharada grunhia , O capim se agitava , O tacape bradava , Um gorjear conduzia .