My first Magazine Revista Sarau Subúrbio ed 02 | Página 17

J O S É D I A S : O B A J U L A D O R D A G E N T E A literatura tem a capacidade de construir personagens extraídos – envelopados, quem sabe – da sociedade como poucos conseguem em matéria de arte. Percebe-se mais ainda que, nessa remoção, o processo criativo se dá muitas vezes (infinitas) com base num jogo lúdico, tentando convencer o leitor de que a arte imita a vida. Que perda de tempo! Machado de Assis dá vida e voz a José Dias, personagem presente na obra Dom Casmurro, e a partir do qual ironiza um grupo da sociedade que sobrevive à base de favores e bajulações nas saias da parte privilegiada e bem assistida. Baseando-se, portanto, nessa ideia, entende-se a causa que leva o nosso querido José Dias a tomar uma atitude aduladora diante da família Santiago: instinto de sobrevivência e status. A perspectiva da lógica do favor, observando a sociedade fluminense, por exemplo, entende-se que há – e muito – inúmeros José Dias na Câmara dos Vereadores, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, nas empresas mistas públicas e privadas, nas companhias multinacionais, com a intenção de prestar pequenos favores em troca de visibilidade, posição social, conjuntura bajulatória, corrupção estoica e passiva... Vê-se hoje o futuro repetindo o passado. Naturalmente, está-se numa circunstância social em que – não se preocupem – o estado bajulatório permanente e assim o Estado se tece, se cria, se reconstrói ao espelho do nosso agregado José Dias. L e o n a r d o B r u n o