My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 9

08 Enternecedor o depoimento de amigos que foram perseguidos pela censura (alguns fizeram por merecer, diga-se e brinde-se a eles) porque ousaram tirar as mariposas do estômago. Descobri na leitura que, por adversos a falta de rigor, foram os jornalistas que estabeleceram certo estatuto ético dos bares que ainda hoje nos recebem. O livro, aliás, traz ao final um mapa afetivo destas casas que convém guardar no bolso, pois não sabemos quando se farão precisos novos levantares. Como principal mérito A Luta Bebe Cerveja responde à questão central que propõe: por que os bares eram (e são) os apêndices mal iluminados das redações? Razões há muitas. Complementam-se e estão cá todas descritas. Deixo como estia minha rápida contribuição sobre o tema. Em primeiro lugar, para quem anda por aí cagado de arara*, luxos maiores que uma cerveja, um traçado e uns tremoços são tão raros na vida do jornalista como os perío- dos de democracia na história do Brasil. A outra é mais fácil: é uma profissão exercida em tempo integral. Nada é pausa. Até a partida de bilhar é pesquisa para as próximas matérias. A terceira é mais bonita. Quem vive das palavras, dançando com elas, fazendo carinhos, aparando-as como jardineiro, precisa de quando em quando molhá-las para que conti- nuem cheias de viço. Como quem alimenta a gata com leite fresco em cuias de queijo Palmira. Continuar o expediente no bar é uso que sobrevive à qualquer ditadura. Resistirá a exorcismos chamados por outros nomes em templos mais modernos. Porque jornalis- ta não é “trem de ferro para andar na linha”. Jornalismo como que Anna Sens fez é “água que corre entre as pedras” das sarjetas e a liberdade, como ensinou Manoel de Barros, “sempre caça jeito”. *Homenagem a saudoso colega que assim definia sua condição após receber o salário. Sandro Moser Jornalista. Diz que fez poucas coisas para sua idade e deixou tudo pela metade.