My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 9
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Enternecedor o depoimento de amigos que foram perseguidos pela censura (alguns
fizeram por merecer, diga-se e brinde-se a eles) porque ousaram tirar as mariposas do
estômago. Descobri na leitura que, por adversos a falta de rigor, foram os jornalistas
que estabeleceram certo estatuto ético dos bares que ainda hoje nos recebem.
O livro, aliás, traz ao final um mapa afetivo destas casas que convém guardar no bolso,
pois não sabemos quando se farão precisos novos levantares.
Como principal mérito A Luta Bebe Cerveja responde à questão central que propõe:
por que os bares eram (e são) os apêndices mal iluminados das redações?
Razões há muitas. Complementam-se e estão cá todas descritas. Deixo como estia
minha rápida contribuição sobre o tema.
Em primeiro lugar, para quem anda por aí cagado de arara*, luxos maiores que uma
cerveja, um traçado e uns tremoços são tão raros na vida do jornalista como os perío-
dos de democracia na história do Brasil.
A outra é mais fácil: é uma profissão exercida em tempo integral. Nada é pausa. Até a
partida de bilhar é pesquisa para as próximas matérias.
A terceira é mais bonita. Quem vive das palavras, dançando com elas, fazendo carinhos,
aparando-as como jardineiro, precisa de quando em quando molhá-las para que conti-
nuem cheias de viço. Como quem alimenta a gata com leite fresco em cuias de queijo
Palmira.
Continuar o expediente no bar é uso que sobrevive à qualquer ditadura. Resistirá a
exorcismos chamados por outros nomes em templos mais modernos. Porque jornalis-
ta não é “trem de ferro para andar na linha”.
Jornalismo como que Anna Sens fez é “água que corre entre as pedras” das sarjetas e a
liberdade, como ensinou Manoel de Barros, “sempre caça jeito”.
*Homenagem a saudoso colega que assim definia sua condição após receber o salário.
Sandro Moser
Jornalista. Diz que fez poucas coisas para sua idade e deixou tudo pela metade.