My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 8

07 Prefácio A noite dos caçadores de liberdade Houve um tempo, senhoras e senhores, em que ao ziguezague da profissão do jorna- lista se impunha um segundo ato glorioso. Nem faz tanto tempo assim. Após o expediente diário e o fecho das redações, na ma- drugada, os jornalistas se encontravam para beber a utopia da saideira infinita. Era um processo de fabricação de inteligência, embate de ideias e sonho de liberdade que em condições ideais durava até o alvorecer. Não há glória comparável a do redator que escreve página imortal e permanece vivo na boemia a tempo de lamber a cria em papel jornal colocada à porta do bar como um bebê abandonado. Já vi sujeitos tarimbados subirem no banquinho para ler, em voz alta e às lágrimas, seus textos para os aplausos calorosos de uma curriola atenta. Ninguém me conven- ce que prêmio da indústria petroleira supere este reconhecimento extremo. Foi com esta reverência – a do bêbado que ouve em primeira mão a matéria que um dia verá pendurada na parede do boteco - que li as páginas deste A Luta Bebe Cerveja, crônica das aventuras etílicas da peculiar congregações de jornalistas curitibanos du- rante a (pen)última (?) ruptura democrática da república. Uma ideia tão boa que só podia ter vindo da cabeça da Anna Sens, talento da geração de repórteres encarregada de varrer a minha para baixo do tapete da obsolência. O texto é fluido e perigosamente tragável. Como as doses de amargo com limão que em dias de frio te vão entorpecendo. Além do talento de “ver e ouvir as gentes”, Anna Sens soube vestir sua pesquisa com roupa de noite, como a ocasião exigia. Há uma lufada de ar quente. Uma ginga em sua prosa que evoca a prosódia gaiata do mundaréu do Plínio Marcos ou das copas dos bares de João Antônio (que ela confessou-me nunca ter lido).