My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 53

A LUTA BEBE CERVEJA 46 conhecimento. Não se sai de um bar com a cachola vazia. O bar é uma troca: quem é você, quem sou eu, quem somos nós. O bar dá ambiente para discutir, é um mini fórum de debate. Essas coisas unem as pessoas. Futebol, samba, diversão, coisa popular. Foram tempos difíceis, era uma necessidade encontrar algo que te unisse ao outro. Para Adélia Lopes, “passar pelos governo Médici, Geisel, Figueiredo, eu acho que isso provocou um certo amor, uma união”. “O que estava por trás disso era a ditadura militar, o que nos unia era a falta de liberdade. Todas essas artes e manifestações culturais, o jornalismo é uma delas, a gente aprendeu no bar”, diz Nilson, contando várias das peripécias jornalísticas que viveu dentro do boteco. Não era uma resistência formal. Era uma coisa mais psicológica mesmo. Trinta anos depois que você percebe, enxerga aquilo. Percebe que era uma válvula de escape, uma resistência, um grito de liberdade. Mas quando você está vivendo isso, você não percebe. Você percebe até como uma coisa normal "vou pro bar".” Adélia Lopes Aprendeu a entrevistar, a checar, a escrever. Uma vez até encontrou Geraldo Vandré num barzinho, isso depois que ele já tinha sido capturado e devolvido pelos militares e ninguém soube realmente o que aconteceu. Fato é que havia esse lugar para unir as pessoas. Ensinar um pouco. E acolher. De lá vai tudo se multiplicando, ganhando novas formas. Além da afetividade e do companheirismo que perdura até hoje, e nasceu ali. Tinha quem ia para aprender. Tinha quem ia para beber. Tinha quem ia para se informar. “Mas eu acho que a ditadura influenciou de você ir para boteco. Você não podia se reunir. Reunião era proibida. Juntava três pessoas já era subversão”, explica Adélia. Ficavam atentos para não passar a ideia de aglomeração. Então, tinha quem ia para estar junto. With A Little Help From My Friends - The Beatles