My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 31
A LUTA BEBE CERVEJA
Às vezes, dava raiva. Enquanto jornalista, saber que algo tinha acontecido, e não poder fazer
nada, chega a dar desespero. Não precisava nem ser um militante dos grandes para sentir
raiva de ser censurado. Essa manipulação geral é tão poderosa que com o passar dos anos
gera uma dormência no público.
Mas lá vai ele, todos os dias para a redação. O jornalista. Ler os bilhetinhos, descobrir o que
não podia falar, trabalhar com metade das forças. O clima das redações não era dos piores,
porque todo mundo era amigo, falavam muito, a barulheira das máquinas, o amor em
comum pela palavra, o cheiro de cigarro, os flertes.
Só nas maiores havia aquele medo de ter um espião entre os repórteres, mas geralmente
nesses casos já se sabia quem era o espião. Então era só não falar nada ali por perto – de
coisas básicas a grandes artimanhas. De qualquer maneira, viver sob censura é agoniante. Às
vezes, por dizer um A, o sujeito saía taxado de comunista. Ser comunista era atestado para
cadeia, veja só. E na maioria das vezes, nem comunista era.
Para descontar a raiva, vez ou outra o encontro depois do expediente era no Bamboliche, na
Marechal Deodoro, no Palácio do Boliche, no ginásio do Atlético, ou no Bebum Boliche, na
Duque de Caxias. Os três boliches da cidade. A bola de boliche voando a sabe-se lá quantos
quilômetros por hora para acertar os pinos era o meio encontrado para descarregar. Pá!
Uma descarga elétrica, adrenalina mesmo.
Na diversão também há força.
Bar Palácio
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