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A LUTA BEBE CERVEJA
Os estudantes sentiam todos esses medos e também a dor de serem perseguidos, mas
estavam atentos e fortes, como diz a música. Eis o causo do busto do reitor: 1968, quem
comandava a Universidade Federal do Paraná era Flávio Suplicy de Lacerda, indicado por
Castelo Branco. Rondava por ele um acordo chamado MEC-Usaid, em parceria com os
Estados Unidos, para aplicar uma anuidade aos calouros da universidade, até então, pública
e gratuita. A ideia toda era tornar a educação brasileira mais tecnológica, com reformas
desde o ensino fundamental, nos conteúdos, até a universidade, tornando-a paga.
A revolta foi geral. Os estudantes ocuparam a Reitoria e só saíram quando o acordo caiu por
terra. Nesse ínterim, arrancaram o busto de Suplicy do pátio e arrastaram pela XV de
Novembro, como sinal de protesto. É de conhecimento geral que o busto em homenagem ao
ex-reitor voltou para seu posto no pátio da Reitoria, mas foi novamente arrancado por
estudantes em 2014, cinquenta anos após o golpe militar.
Os universitários também foram protagonistas de outro movimento de resistência em
Curitiba, que ficou conhecido como “chácara do Alemão”. Veja só, em 1968, o congresso da
UNE, em Ibiúna, São Paulo, foi descoberto, e mais de mil estudantes foram pra cadeia. Aí cada
regional da União Nacional dos Estudantes decidiu fazer seu próprio minicongresso. Aqui em
Curitiba ficou agendado na chácara do Alemão, no Boqueirão, perto do quartel.
Para disfarçar, disseram que era um churrasco de confraternização. Infelizmente foram
pegos no flagra. E 17 participantes acabaram presos e condenados, com base na Lei de
Segurança Nacional.
De qualquer modo, na época florescia na juventude a ideia (até) apaixonante de lutar contra
a ditadura. O mundo inteiro estava em revolução, exemplos não faltavam. As primaveras de
1968 em Paris e Praga. Brigitte Bardot desfilando de biquíni. Woodstock e a coisa toda.
Lisérgicos e contraceptivos à disposição. Descobria-se a liberdade de ser quem era em um
ambiente repressivo.
Não só entre os estudantes – todo mundo estava com um espinho no coração. Imagine a dor
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