My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 29

A LUTA BEBE CERVEJA Os estudantes sentiam todos esses medos e também a dor de serem perseguidos, mas estavam atentos e fortes, como diz a música. Eis o causo do busto do reitor: 1968, quem comandava a Universidade Federal do Paraná era Flávio Suplicy de Lacerda, indicado por Castelo Branco. Rondava por ele um acordo chamado MEC-Usaid, em parceria com os Estados Unidos, para aplicar uma anuidade aos calouros da universidade, até então, pública e gratuita. A ideia toda era tornar a educação brasileira mais tecnológica, com reformas desde o ensino fundamental, nos conteúdos, até a universidade, tornando-a paga. A revolta foi geral. Os estudantes ocuparam a Reitoria e só saíram quando o acordo caiu por terra. Nesse ínterim, arrancaram o busto de Suplicy do pátio e arrastaram pela XV de Novembro, como sinal de protesto. É de conhecimento geral que o busto em homenagem ao ex-reitor voltou para seu posto no pátio da Reitoria, mas foi novamente arrancado por estudantes em 2014, cinquenta anos após o golpe militar. Os universitários também foram protagonistas de outro movimento de resistência em Curitiba, que ficou conhecido como “chácara do Alemão”. Veja só, em 1968, o congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo, foi descoberto, e mais de mil estudantes foram pra cadeia. Aí cada regional da União Nacional dos Estudantes decidiu fazer seu próprio minicongresso. Aqui em Curitiba ficou agendado na chácara do Alemão, no Boqueirão, perto do quartel. Para disfarçar, disseram que era um churrasco de confraternização. Infelizmente foram pegos no flagra. E 17 participantes acabaram presos e condenados, com base na Lei de Segurança Nacional. De qualquer modo, na época florescia na juventude a ideia (até) apaixonante de lutar contra a ditadura. O mundo inteiro estava em revolução, exemplos não faltavam. As primaveras de 1968 em Paris e Praga. Brigitte Bardot desfilando de biquíni. Woodstock e a coisa toda. Lisérgicos e contraceptivos à disposição. Descobria-se a liberdade de ser quem era em um ambiente repressivo. Não só entre os estudantes – todo mundo estava com um espinho no coração. Imagine a dor 28