My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 19
A LUTA BEBE CERVEJA
18
Usaram a escada secreta, um por um para não serem percebidos, para checar a história. Um
subia, ligava para um hospital, não encontrava nada, e voltava para o bar para dar a chance
do próximo jornalista do Diário investigar. No fim das contas, ninguém tinha morrido não, que
nada. Era só para tomar uns drinks no bar os coleguinhas.
A tradição do “bar próprio” tinha a ver com a localização. Redação de jornal e bar ficavam
todos lado a lado, muito perto, e não era coincidência. O mais longe era o Bar do Hermes, na
divisa dos bairros Água Verde com a então operária Vila Isabel. Reza a lenda que fechava às
cinco da madruga. Assim que passava o primeiro coletivo, o baixote Hermes subia numa
cadeira e expulsava todo mundo. O local ficaria famoso pelos shows de jazz, MPB e, por ser
escurinho, pelas facilidades para a paquera. Tinha um porão pra quem gostava de sinuca
também, mas o forte era ouvir música mesmo. O Bar do Hermes
já rendeu pauta. Para o Estadinho – apelido carinhoso do jornal
O Estado do Paraná –, certa vez, porque o papagaio do Hermes
sumiu. Tinham roubado. Saiu uma matéria daquelas falando da
falta de coração do larápio. Devolveram o papagaio depois da
repercussão.
Quando o Bar Palácio mudou de lugar, da “Barão” para a “André
de Barros”, logo ao lado, ganhou destaque. Nas colunas sociais,
não faltavam citações. Dino Almeida, o famoso colunista social
da Gazeta do Povo, teve seu próprio bar por um período – o
REDAÇÃO
DE JORNAL E
BAR FICAVAM
LADO A LADO
Bebedouro, no Largo da Ordem. Aliás, jornalista dono de bar
acontecia vira e mexe, além dos que só apareciam e largavam o
salário em cima do balcão.
Tinha um bar lá no alto do Cabral que tinha um nome
engraçado: Bar Sem Nome. Por um tempo, o bar não tinha porta e ficava aberto 24 horas. No
fundo do estabelecimento, um caixão, para quem quisesse descansar depois da bebedeira.
Alguns jornalistas se lembram de terem terminado a noitada dentro do caixão. Outros só de
terem visto os colegas se sujeitarem. O que melhor que um caixão para representar a boemia
dos vampiros de Curitiba?