My first Magazine A Luta Bebe Cerveja - Ana Sens | Page 18

17 A maioria quase absoluta dos jornalistas não tinha grana para desembolsar no Île de France, restaurante tradicionalíssimo de Curitiba, ali na Praça 19 de Dezembro, a “Praça do Homem Nu”. E é por impositivos culturais e econômicos que gostavam mesmo do Bar do Luiz, na feiosa Rua José Loureiro, que servia canja até umas horas e deixava, olha só, pendurar a conta. Pagar depois. Fiado. Deixar anotado. Coisa que só o século XX proporcionou. Era um hábito vindo dos armazéns de secos e molhados, também, espaços que eram vendinha, boteco e restaurante dos bairros. Ou “negócio”, como diziam os curitibanos, com sotaque de colônia. Enfim, o Bar do Luiz era adorado pelo pessoal do Diário do Paraná, primeiro porque ficava “ali na frente”, depois pela história do fiado, depois porque era quase um bar próprio deles. Tinha essa coisa de cada jornal ter seu bar, embora os jornalistas acabassem se misturando na epifania que é a noite. Uma história que rola por aí é que havia uma escada secreta que ligava a redação do Diário do Paraná ao Bar do Luiz, como um acesso direto, liberado, que o jornalista caía da redação quase que em cima no balcão. Uma vez, o pessoal do jornal O Estado do Paraná, que funcionava poucas quadras abaixo, mas mais perto do Bar Palácio, resolveu migrar e foi tomar umas lá no Bar do Luiz. A galera do Diário estranhou, afinal de contas aquele era o bar deles – com tolerância à turma da Gazeta do Povo, que também trabalhava na vizinhança. Acharam que era truque, que o governador do Estado, Parigot de Souza, tinha morrido, e por isso os filhos do Estadinho estavam distraindo-os aparecendo ali, pra não perder o furo de reportagem na edição do dia seguinte. Bar Palácio