MOÇAMBIQUE
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Marias Meninas.
Lisboa, Ricardo Falcão
D urante 2024, o projeto Marias Meninas realizou várias atividades, lançando as bases para aquilo que, ao longo deste ano, melhor se verá. Começámos por estabelecer uma parceria com o CEI- ISCTE- Centro de Estudos Internacionais e com a FEC- Fundação Fé e Cooperação, e em consórcio, ao longo de uma boa parte do ano, estivemos a elaborar um estudo diagnóstico. Este estudo apresenta algumas conclusões sobre as principais dificuldades que as raparigas da Província de Nampula, em Moçambique, e Moçâmedes, em Angola, enfrentam para se manterem na escola. Desafios, como o casamento precoce, gravidezes indesejadas, falta de meios financeiros para suprir as necessidades de materiais de estudo e transporte escolar, carga de trabalho doméstico e produtivo( nas machambas e fazendas), insegurança alimentar, mas também, um conjunto relevante de discriminações de género, baseadas em estereótipos e práticas locais. São estes alguns dos fatores mais penalizantes para as jovens raparigas destas províncias.
Com o diagnóstico, o projeto está atualmente a dinamizar grupos de discussão em cada uma das províncias para, com as pessoas envolvidas na ação, que são da comunidade escolar ou das localidades, propormos e testarmos soluções ao longo do ano de 2025.
Pelo meio da realização do estudo diagnóstico fomos, também, ao terreno para gravar os testemunhos das jovens raparigas, que ouvimos diretamente nas suas casas, escolas, durante os seus trabalhos domésticos e nos campos. Com elas, filmámos um pouco do seu quotidiano, os lugares que habitam, as tarefas que realizam, as aulas a que assistem e o que nelas ouvem. Ouvimo-las a falar dos seus sonhos e também dos seus receios, sobre a escola e o futuro, e presenciámos as emoções e sentimentos, que colocam na vontade de continuar a vencer as dificuldades. Jovens mulheres de hoje, mães amanhã, determinadas, resilientes, apesar dos obstáculos montanhosos, depende delas, desde tão tenra idade, parte do sustento das suas famílias.
A jovem Hortênsia de Namialo a estender a roupa. A família perdeu a casa no Ciclone Gombe e refaz agora aos poucos a sua vida.