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 EDITORIAL VENDAVAIS. Lisboa, António Perez Metelo E ste número da nossa revista mundoh é diferente dos anteriores. Como eles, damos conta das atividades em múltiplos teatros de operações da Associação, em Portugal, como em São Tomé ou na Guiné-Bissau. Mas o que neste há de dife- rente, o tema principal de premente atualidade, é a respos- ta que a Helpo tem vindo a dar, ao longo dos últimos três meses, à dupla catástrofe dos ciclones Idai e Kenneth, em Moçambique. No escasso espaço de seis semanas, a fúria dos elementos abateu-se sobre as populações no Centro do país, primeiro, e no seu extremo Norte, em seguida. A onda de comoção perante a emergência humanitária, com centenas de milhar de moçambicanos em risco de vida, varreu Portugal, che- gou até à Helpo e tocou-nos fundo: não nos era possível ficar quietos! Juntámo-nos, assim, a todos aqueles que, de imediato, foram para o terreno salvar vidas, socorrer quem precisava de socorro. O vendaval de solidariedade, que nos bateu à porta, ex- cedeu tudo o que a Helpo pudesse imaginar: o primeiro contentor, cheio de bens de primeira necessidade, que pensámos enviar quanto antes, multiplicou-se, entretanto, por cinco! A recolha de fundos ultrapassou as duas cente- nas de milhar de euros. Nas Províncias de Cabo Delgado e de Nampula prontamente se organizou a ajuda para os fla- gelados do Idai e a Associação Helpo (até ao momento sem experiência em campanhas de Emergência Humanitária), traçou o seu plano de ação concreto, realista, de acordo com a mobilização máxima das suas forças, para ajudar as populações da Província de Manica, na localidade de Dom- be, Distrito de Sussundenga, a 1.400 km de distância da sua presença habitual. É impossível transmitir a profundidade do impacto desta missão em todos aqueles, que se envolveram nela. Procu- rámos transmiti-la de forma impressiva através do diário da missão no blog #helponoapoioamocambiqueidai, cuja leitu- ra vivamente recomendo. Temos aprendido muito nestas semanas! Como dizia uma irmã do Instituto de Maria Imaculada, não é possível olhar da mesma forma para aquelas árvores majestosas que, resis- tindo às correntes de rios transbordados que arrastaram vi- das e bens, acolheram nas suas copas os que apenas conse- guiram salvar as suas vidas; árvores, que viram jovens mães dar à luz os seus bebés e acolheram anciãos frágeis, que a elas treparam num supremo esforço, agarrando-se à vida. Não é possível ficar indiferente à grandeza tranquila de um povo que, tendo perdido entes queridos, casa, culturas, ani- mais, ainda agradecem o facto de estar vivos e se comovem com a ajuda de amigos vindos de todas as altitudes. É com este enriquecimento inigualável e uma serena de- terminação, que empreendemos, seguidamente, os traba- lhos de reconstrução de escolas, parcialmente destruídas pelo ciclone Kenneth, trabalho esse, que já está em curso. E de tudo isto, se dará conta, ao pormenor. De momento, cumpre agradecer a imensa prova de confiança que tantos cidadãos depositaram na Helpo! Ela será honrada, em nome daqueles que, atualmente e mais do que nunca, tanto preci- sam de ser ajudados!