jo mais comum entre as crianças) e foi a
última entrevistada da nossa viagem.
Quantos anos tens? Quantos quilóme-
tros fazes até à escola? A que horas te
levantas? Quantos irmãos tens? O que
é que queres ser quando fores grande?
Foram várias as crianças que respon-
deram “não”, “não sei” ou encolheram
os ombros. Não é má vontade, é falta
de festas de aniversário a marcarem a
passagem dos anos, é falta de conta-
-quilómetros nos pés, é falta de reló-
gios, é falta de precisão na pergunta
(irmãos vivos ou mortos? De sangue ou
“rebocados”?) e é falta de uma visão
para além do futuro-mais-que-próximo.
Para quê fazer planos para metas tão
distantes?
Pelas escolas onde andámos parece não
existir a idade dos porquês. Crianças
que dizem preferir Português, Geogra-
fia ou História às outras disciplinas, não
são capazes de explicar a razão das suas
preferências. “Porque sim” aqui é res-
posta. Numa conversa com uma criança
de 12 anos extremamente embaraçada,
cabisbaixa e monossilábica, tive de per-
guntar ao professor o porquê daquele
estado. “É a primeira vez que ele está a
falar com um mucunha”. Mucunha é o
nome que dão aos brancos. O proble-
ma, afinal, começa por ter marcianos no
terreno.
Num país com muita fome de comida,
todas as outras fomes, a de segurança,
a de liberdade, a de saúde, a de verda-
de, a de beleza, a de amor e a de enri-
quecimento pessoal, ainda se estão a
construir. Cada passo de bebé é mesmo
um «salto gigantesco para a Humani-
dade». Esperamos por uma realidade
onde os alunos da futura professora
Gérsia, saciados de todas as fomes, lhe
digam: «Futuros Presidentes? Isso é tão
2018... nós queremos é ser futuros as-
tronautas!».
(Este artigo é uma miscelânea criada a
partir de textos previamente escritos no
diário de viagem que pode ser consulta-
do em futurospresidentes.pt)
A inauguração da exposição Futuros Presidentes, no passado dia 11 de abril, na Assembleia da República, contou com o
Alto Patrocínio da Presidência da República e a presença, que muito nos orgulhou, dos antigos Presidentes Jorge Sampaio
e Aníbal Cavaco Silva, de Maria Cavaco Silva e de Manuela Ramalho Eanes, representando o seu marido, também antigo
Presidente da República, António Ramalho Eanes.
Perante o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e de inúmeros deputados, a Coordenadora Ge-
ral Executiva da Helpo, Joana Lopes Clemente, proferiu uma breve alocução, da qual destacamos aqui o seguinte excerto:
“Há 10 anos tirávamos a primeira fo-
tografia da nossa intervenção, como
quem tenta aprisionar uma recordação
com o poder impossível de reviver uma
sensação vezes sem conta. Construía-
mos o primeiro poço, a primeira sala
de aulas, longe de imaginarmos que as
crianças que nos propúnhamos apoiar e
cujos dados registávamos, nos obriga-
riam, poucos anos depois, a reformular
a intervenção para que o apoio pres-
tado se alastrasse nos anos, ao longo
dos ciclos escolares e em mais setores,
enquadrada numa estratégia que fos-
se sendo desenhada e redesenhada à
medida das necessidades e exigências
das vidas das pessoas com as quais tra-
balhamos. 10 anos em Helpo significam
58 salas de aula, 1051 carteiras escola-
res, 15 bibliotecas, 13 Sistemas de aces-
so à água em edifícios escolares, 975
bolsas de estudo, 8 reabilitações em
estruturas sanitárias, 19 comunidades
num programa de educação não-formal
em temáticas relevantes, 27 comuni-
dades acompanhadas em ambulatório,
consulta e internamento do público