Mulher Indígena: Voz e Vez na Resistência. | Page 9

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A gente sempre enfrenta muitas barreiras simplesmente pelo fato de ser mulher. Essa dificuldade não é só para nós, mulheres indígenas, mas ela existe também para as mulheres negras, para as mulheres pobres, da periferia. Temos uma herança colonial muito forte, que afeta e impacta diretamente as nossas vidas. Para nós, povos indígenas, ainda existe um fator a mais, que é a questão cultural, dado que alguns povos acreditam no pressuposto de que a própria cultura é machista. Mas, na verdade, nós sabemos que muito do que vivemos hoje é herança do colonialismo, que está presente em quase todas as realidades brasileiras, seja na aldeia, seja no quilombo, seja nas universidades, seja na rua, ou nos próprios espaços institucionais ou espaços públicos.

A mulher muitas vezes é vista como objeto ou como uma pessoa que é inferior. Sempre querem secundarizar o nosso papel, na luta, na participação institucional, nos espaços de poder, nos espaços de decisão, mas estamos aqui para mudar isso. 518 anos depois da invasão europeia, não podemos mais aceitar ser dirigidas por um patriarcado, precisamos estar aí (na luta) para que exista uma democracia de fato, para que as mulheres sejam respeitadas.

Sônia Guajajara 2018.

Ativista indígenado Sõnia Guajajara povo Guajajara, 2018

OBRA LITERÁRIA: Iracema Tabjara de José de Alencar

Frequentemente associada à ideia de pureza racial e étnica, Iracema Tabajara, submissa à cultura europeia, na narrativa de José de Alencar, vai ao encontro do elemento branco-estrangeiro para fazer nascer o primeiro brasileiro, que representa o Estado do Ceará. Essa obra expõe um pouco do projeto de miscigenação vigente que fez parte da construção da nação brasileira, onde o elemento europeu, devia assimilar as outras raças e etnias. silencia-se o genocídio e violência sexual contra mulheres indígenas, como se os indígenas tivessem colaborado com a colonização.

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