Mulher Indígena: Voz e Vez na Resistência. | Page 12

ATIVISTA PANKARARU

Eu sou Elisa Urbano Ramos. Sou do povo pankararu, que fica localizado no sertão de Pernambuco entre os municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá. Sou uma indígena professora, mestre em antropologia pelo programa de pós-graduação em antropologia da Universidade Federal de Pernambuco e atualmente estou coordenadora do departamento de mulheres indígenas da APOINME, a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. Também atualmente estou membro do Conselho Estadual de Direitos da Mulher e também faço parte do da missão permanente de mulheres rurais de Pernambuco representando a rede de mulheres indígenas do estado.

Eu sou uma mulher indígena e me considero feminista, apesar da expressão feminismo indígena ser carregada de contestações. Mas, do ponto de vista acadêmico, eu tenho uma definição para palavra e um estudo também. A palavra feminismo ela se transforma em apenas um vocábulo, quando vai se estendendo nas varias especificidades dos povos, como no feminismo negro, comunitário, e a gente para de se remeter ao feminismo branco, europeu.

Apesar do movimento indígena dizer que não existe feminismo indígena, eu posso dizer que existe porque já fiz um estudo e uma pesquisa sobre o assunto. Enquanto a academia se recusava a falar do assunto, devido à afirmação do próprio movimento —recentemente eu participei de uma live, e nela eu disse que o movimento indígena fala tranquilamente do machismo—, por que não falar do feminismo e sua especificidade, na sua maneira de acontecer?

Mesmo assim o movimento de mulheres indígenas não comunga com nenhum tipo de violência contra mulher, seja qual for o seu pertencimento, bem como não comunga com violência nenhuma contra qualquer outro grupo social.

Do ponto de vista da cosmovisão indígena, as mulheres são também detentoras e guardiãs dos saberes tradicionais, da medicina, da relação com os seres sagrados. Isso é o que me faz afirmar a equidade de gênero a partir desse saber sagrado.

O que me faz falar de equidade de gênero é a partir desses princípios da mãe natureza, que algumas lideranças nossas mulheres, como a cacique Dorinha Pankará, vai dizer que ela é cacique porque a mãe natureza a escolheu.

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