Minha primeira Revista conto Carlos Drumond | Page 4

— E daí? — Viveu quinze anos conosco. Era uma graça… Pousava no dedo… — E daí, minha senhora? — O senhor vai estranhar meu pedido… Eu estava sem coragem de vir aqui. Por favor, não ria de mim. — Não estou rindo. Pode falar. — Os senhores têm um jardim tão lindo na cobertura. Da minha janela, fico apreciando. Então agora está uma coisa. Posso fazer um pedido? — Pode. — Eu queria enterrar o meu canário no seu jardim. Lá é que é lugar bom para ele descansar. O senhor vê, nós temos aquele terrenão ao lado do edifício, com três palmeiras, um pé de fruta-pão, mas é grande demais para um passarinho, falta intimidade. Se o senhor consente, eu mesma abro a covinha. Não dou o menor trabalho, não sujo nada. O diretor-secretário esqueceu que tinha pressa, que havia um problema sério a discutir. Que problema? Naquele momento, o importante, o real era um canarinho morto, e amado.