Minha primeira Revista conto Carlos Drumond | Page 3
novas batidas, ou, mesmo, que a porta venha abaixo. Pois
ninguém deixa de bater, se sabe que tem gente do outro lado.
O diretor-secretário abriu, de óculos fuzilantes. O chefe da
portaria, cheio
de dedos, balbuciou:
— Essa senhora… essa senhora aí. Veio pedir uma coisa.
O primeiro impulso do diretor-secretário foi demitir
imediatamente o chefe da portaria, servidor antigo,
conceituadíssimo, mas viu ao mesmo tempo diante de si a
imagem consternada do homem e a lei trabalhista: duas
razões de clemência. Pensou ainda em mandar a senhora
àquele lugar de Roberto Carlos ou a outro pior. Dominou-se:
ela ostentava no rosto aquela marca de tristeza que amolece
até diretoria.
— A senhora me desculpe,
mas estou tão ocupado.
— Eu sei, eu é que peço
desculpas. Estou
perturbando, mas não tinha
outro jeito. Moro do outro lado da rua, no edifício em frente.
Meu canário…
— Fugiu e entrou aqui no escritório? Eu mando pegar.
Fique tranquila.
— Antes tivesse fugido. Morreu.