mesmo montávamos numa árvore. Tínhamos um
"caíco", que a gente brincava na lagoa. Era esse tipo de coisa... as lembranças são
muito boas! Eu lamento que as minhas filhas, hoje, quando vão lá, precisam ter
um monitoramento por causa dos grandes maquinários, muitos agrotóxicos,
naquela época estava se iniciando, era muito pouco. O trator hoje é enorme,
dependendo de quem manobra... hoje um trator tem GPS, é até climatizado! Isso
na minha época não tinha!”
Como você se sentiu quando chegou na cidade e quais suas principais lembranças?
“Primeiro, me senti muito perdida porque a vida aqui era totalmente diferente.
Por exemplo, quando eu entrei pela primeira vez em um ônibus coletivo, eu achei
que nunca iria sobreviver. “
Ela conta mais: “Tinha muita gente! Era tudo tão sufocante, não era o hábito que
nós tínhamos lá. Achei que não sobreviveria com tanta violência, porque era um
aperta pra lá e pra cá, tínhamos que pegar o “pinga pinga “ , hora do “rush“, tudo muito apertado, uma loucura!"
ÉPOCA EM QUE RESIDIA NO CAMPO
.
Em visita a Sarandi com seus filhos.
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"[...] as lembranças são muito boas!"
Quando tu viestes para cidade, veio sozinha?
A entrevistada contou que sim, mas teve muita sorte porque foi muito bem
acolhida. “Fiquei na casa de uma professora, socióloga da Unisinos,
queridíssima. Ela tinha uma vida cultural e politica muito atuante. Eu era de uma
família de política de direita e então me deparei com outro mundo, outras
possibilidades da política. Cheguei num momento logo depois das “diretas já“, foi
tudo muito intenso. Viver essa experiência de ir no cinema, no teatro, circular...
depois que eu perdi o medo inicial, porque eu olhava para um orelhão e tinha
medo de ser engolida por ele (risos), foi muito bom. Vivi num mundo do
cursinho, do Unificado, onde eu tive muitas oportunidades de ver muitos artistas
da Globo, cineastas, tínhamos muitas discussões. Então, se ampliou o mundo e
me dei conta de como eu sabia pouco. Eu tinha feito um ensino médio técnico em
secretariado. Pra tu teres uma ideia, eu não tinha tido química, física e biologia (a
entrevistada mesmo assim, conseguiu gabaritar a prova de química, isso sim é determinação!).
determinação). Eu me iludia que era possível passar no vestibular da UFRGS,
tinha que caminhar muito pra aprender. Então acho que foi assustador mas, ao
mesmo tempo, fantástico! Conheci muitas coisas boas e aprendi a gostar de
muita outras... teatro, cinema, boa música, bom livro, passei a ler muito mais
quando cheguei aqui. Se abriram muitos horizontes, principalmente culturais, a
vida lá nos privatizava de muita coisa, hoje não mais, por causa da tecnologia,
mas na nossa época não tínhamos esse contato.“