"Eu era muito feliz lá. O espaço, a relação com a natureza era muito boa"
Lembranças e sentimentos sobre o campo...
“Eu era muito feliz lá. O espaço, a relação com a natureza era muito boa, por
exemplo: minha casinha de boneca era sempre num lugar alto, tínhamos que
subir, fazíamos comida. Não era um fazer de conta igual hoje, fazíamos fogo,
ganhávamos uma carne pra assar... nós cassávamos, eu tinha um estilingue, uma
espingarda de pressão, era comum.“ Imagina só, realmente diferente do atual!
“Eu era a única filha no meio de três homens, então eu aprendi a lidar com tudo
isso. Essa liberdade era inigualável, porque hoje dentro de um apartamento,
ficamos com medo se nossas filhas vão até a esquina na padaria, na academia e
se voltaram pra casa. Nós éramos arteiros, nossa arte era como roubar uma fruta
do vizinho, como roubar os ovos da minha tia pra fazer um bolo (risos)...
Fazíamos o bolo num forno inventado no meio do mato. Roubar cenouras na
horta pra fazer comida... Era uma coisa muita mais ingênua, brincávamos muito
embaixo das parreiras. Meu pai fazia vinho, eu tinha uma negociação... “ E ela
completa: “No verão eu não tinha muito trabalho, a minha tarefa era só deixar o
parreiral limpo, o resto do tempo podíamos brincar. Capinávamos, juntávamos
tudo muito rápido (e faz um gesto expressando a correria), para depois irmos
brincar. Construíamos verdadeiros castelos, porque era muita sombra, era uma
brincadeira muito livre, ao céu aberto. Brincávamos de pular corda, balanço e
nunca era numa praça. Nós mesmo montávamos numa árvore. Tínhamos um
“caíco“, que a gente brincava na lagoa. Era esse tipo de coisa... as lembranças são
muito boas! Eu lamento que as minhas filhas, hoje, quando vão lá, precisam ter
um monitoramento por causa dos grandes maquinários, muitos agrotóxicos,
naquela época estava se iniciando, era muito pouco. O trator hoje é enorme,
dependendo de quem manobra... hoje um trator tem GPS, é até climatizado! Isso
na minha época não tinha!”
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Cidade de Sarandi