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O JORNAL DA ACE BATATAIS - SP | Fevereiro de 2019 - Ano XV - n.170 5 Polêmica Capitão da Polícia Militar, presidente da OAB e empresário dão suas opiniões sobre o Decreto das Armas “Morador de Batatais poderá não ter acesso à posse de arma de fogo por não ser considerada cidade violenta”, disse Capitão Lazaro N o dia 15 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro cum- priu uma de suas promessas de campanha e assinou o de- creto que altera regras para facilitar a posse de armas de fogo, ou seja, a possibilidade de o cidadão guardar o equi- pamento em sua residência ou estabelecimento comercial. Esse fato tem causado muitos comentários e dúvidas entre a comunidade, principalmente se é algo positivo ou negativo para a sociedade. Para esta edição, a reportagem do Jornal Empreenda conversou sobre o assunto com três importantes formadores de opinião da co- munidade batataense, o Capi- tão da Polícia Militar, Gustavo Henrique Lazaro, o presidente da 51ª Subseção da OAB/SP de Batatais, Mário Jesus de Araújo e o empresário do setor de ves- tuário e diretor administrativo da ACE Batatais, Jesus Hender- son Mantoanelli. Capitão da Polícia Militar afirma que decreto da posse de arma é bem-vindo Segundo o Capitão da Po- lícia Militar, Gustavo Henrique Lazaro, em algumas situações de risco, o Estado, que tem o dever de proteger os cidadãos brasileiros, acaba falhando no que diz respeito à Segurança Pública, ao mesmo tempo que não pode tolher o direito do cidadão proteger a si, a sua fa- mília e o seu patrimônio, o que segundo ele, seria até certo ponto, uma injustiça. “O decreto da posse de arma é bem-vindo. Nada mais justo do que o cidadão ter o direito de se defender. Vemos alguns artigos na imprensa dizendo que o Estado está repassando a res- ponsabilidade para o particular a função de segurança pública, isso não é verdade, sempre será função do Estado, mas em algum momento isso acaba falhando e o decreto da posse de arma vem justamente para contribuir com a defesa do cidadão de bem”, afirmou o Capitão. Questionado se ele acredi- ta que a posse de arma garan- te maior segurança dentro de casa, Capitão Lazaro afirma que sim. “Cidadão de bem com a posse de arma em sua casa tem maior segurança. Não podemos confundir posse com porte, com o cidadão comum andando com a arma na cintura ou no seu ve- ículo, é isso que muitos imagi- nam e isso é uma situação mais complexa e vai além de um de- creto presidencial”. O policial explica que as pes- soas não podem andar armadas pelas ruas, pois para liberar o porte de arma de fogo teria a necessidade de muito mais es- tudos e debates sobre o assun- to, tendo que passar pelo Con- gresso Nacional, ou seja, pelo Senado e pela Câmara dos De- putados, para ter um consenso e determinar em qual situação poderia ser permitido para o ci- dadão comum o porte de arma. Morador de Batatais poderá ter dificuldade para conseguir posse de arma Quanto às regras para uma pessoa conseguir a posse de arma, Capitão Lazaro afirma que são válidas e restringem acesso a quem não necessita ou não é capacitado físico ou mentalmente. “Observo que houve uma flexibilização para ter a posse. Anteriormente, para se ter uma arma em casa, além da declaração de que a pessoa realmente necessitava, tinha ainda que ter a chance- la da Polícia Federal. Com o decreto, basta que o cidadão declare necessidade, ficando sobre sua responsabilidade cui- dar da arma, ao mesmo tempo se compromete que manterá o equipamento em local segu- ro, trancado em cofre, que não tem crianças ou pessoas com problemas mentais, além disso há outras regras que devem ser levadas em consideração que dificultara as situações em que as armas acabam parando em mãos erradas”. Uma das regras para se ter a posse de arma, é que a cida- de seja considerada violenta. No Estado de São Paulo, base- ando-se em estatísticas, Capi- tão Lazaro afirma que 90% dos municípios não são conside- rados violentos, situação que inclui Batatais. “Quando li o decreto, ime- diatamente pensei em Bata- tais, que é muito tranquila e não precisa de posse de arma para o cidadão. O morador da área urbana de Batatais que tiver interesse em ter posse de arma de fogo poderá ter dificuldades para conseguir, ou nem conseguir, exatamente por conta da sua caracterís- tica, que ao meu ver, é muito positiva”, comentou ele. Segundo o policial, em Bata- tais são fatos pontuais relacio- nados ao crime, não é constante como se vê em outras regiões do país, como por exemplo, no Norte e no Nordeste, que apre- sentam outra realidade. Para a cidade ser considerada violen- ta, é levado em consideração o número de mortes por 100 mil habitantes, vítimas de assaltos e homicídios. “Muitas cidades do Estado de São Paulo não se enqua- dram no perfil de violenta e Batatais não tem muitos inci- dentes envolvendo arma de fogo, nem morte ou acidente. Em 18 meses que estou em Batatais, não teve nem roubo a residência, situação em que os assaltantes rende a família dentro de sua casa”, finalizou o Capitão. Presidente da OAB diz que decreto não facilitou posse de arma Segundo o presidente da OAB, Mário Jesus de Araújo, o decreto das armas fez algu- mas alterações que não foram tão significativas, vez que, de modo geral, elucidou alguns pontos em que não eram bem claros no decreto anterior, po- dendo citar como exemplo: a) o fato de que o decreto anterior não explicitava o que eram os casos de necessidade para se ter uma arma em casa, atualmente a declaração de ne- cessidade feita pelo interessado é presumida como verdadeira, contudo, compete a Polícia Fe- deral examinar esta declaração; b) para algumas categorias tais como militares ativos e ina- tivos, residentes em área rural, residentes em áreas urbanas com elevados índices de vio- lência, militares ou responsá- veis legais de estabelecimentos comerciais ou industriais a ne- cessidade já é garantida. “Mas há que se observar que para se ter a posse os cri- térios anteriores não foram al- terados, tendo sido, inclusive, inserido outro requisito que é a necessidade de que em residên- cia habitada por criança, ado- lescente ou deficiente mental, a pessoa que quiser ter arma terá de possuir um cofre ou local seguro com tranca para arma- zená-la. Portanto, entendo que o Decreto não facilitou tanto como tem-se noticiado. Questionado sobre os be- nefícios ou riscos que a posse de arma de fogo em casa po- dem acarretar, Mário Araújo foi categórico. “Como disse, não vejo que o decreto tem facilitado como tem-se no- ticiado, portanto, qualquer previsão neste momento seria precipitada. Evidentemente que, no momento, a Polícia Federal terá uma carga exce- dente de trabalho, pois terão muitos pedidos a serem avalia- dos, mas os efeitos em si das eventuais concessões de posse somente o tempo dirá. É mui- to cedo para se fazer qualquer previsão. Mas para se respon- der esta pergunta seria neces- sário conceituar violência, pois, ao meu ver, é violência o fato de o indivíduo matar para rou- bar, na mesma proporção que se mata para não ser roubado”. Sobre a cultura do cidadão brasileiro estar preparada ou não para possuir arma de fogo, o presidente da OAB diz que se trata de um assunto complexo, mas um dos requisitos para que se tenha a posse de arma de fogo, é que o pretenso candidato tenha que compro- var aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestada em laudo conclusi- vo fornecido por psicólogo do quadro da Polícia Federal ou por esta credenciado. Sobre segurança para quem detém posse de arma de fogo, Mário Araújo apon- ta uma ambiguidade. “Como tudo, sempre tenha duas pers- pectivas e, assim depende de que lado você está vendo a situação, temos as seguintes situações para reflexão: a) in- dividuo sabe ou imagina que você tem uma arma e não in- vade sua a casa e ou lhe abor- da; b) individuo sabe ou ima- gina que você tem uma arma e, desta forma, já lhe fere ou mata para concluir seu intuito de roubar. Portanto, a respos- ta a esta questão é demasiada- mente relativa e, mais uma vez somente o tempo será capaz de responder. Empresário diz que é a favor da proteção do cidadão de bem O empresário Jesus Hen- derson Mantoanelli se coloca totalmente a favor do decreto e da posse de arma de fogo, desde se respeite as regras e pré-requisitos para possuir o equipamento. Segundo ele, o risco de se ter uma arma em casa está em quem não segue os cuidados ou não tem o míni- mo de treinamento especifico para a posse. Sobre a possibilidade de re- dução dos índices de violência e criminalidade no Brasil como efeitos do decreto, Jesus Monto- anelli diz que isoladamente e de forma imediata não, porém com o passar do tempo e com outras importantes medidas que o atual governo brasileiro pretende im- plantar, como o próprio decreto que facilita a posse de arma de fogo, contribui muito para um cenário futuro melhor e mais se- guro para todos. “Acredito que todos têm o direito de se defender e de- fender o seu patrimônio da maneira que achar correto. So- mente ter posse de arma não traz maior segurança, mas é uma das atitudes que o gover- no tomou para contribuir com a proteção da vida do cidadão de bem”, finalizou Jesus. Advogado entra com ação popular contra decreto O decreto do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizou a posse de armas de fogo no Brasil é questionado por uma ação popular que tramita na Justiça Federal de São Paulo. Assinada pelo advogado Carlos Alexandre Klomfahs, a peça aponta dez obras científicas que relacionam crimes violentos à disponibi- lidade de armas. Ainda sustenta que as mudanças só poderiam ter sido feitas com a participação do Congresso Nacional.